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Blog da Sophie Deram

Pra você tudo tem que ser "saudável"? Veja 5 sinais de ortorexia

Sophie Deram

26/09/2018 04h00

Crédito: iStock

Todo mundo tem aquela amiga ou amigo que sabe de cor e salteado o valor calórico das coisas, está sempre informado sobre a dieta do momento e se refere aos alimentos como "carbo", "proteína" e outras nomenclaturas que, até pouco tempo atrás, ficavam restritas aos consultórios de nutricionistas.

Fico satisfeitíssima ao ver que as pessoas estão cada vez mais interessadas em saber sobre a qualidade e a procedência de suas refeições. Mas, ao mesmo tempo, um pouco preocupada com o exagero em torno destes assuntos, o que acaba depondo contra toda a temática "saudável".

Porque faz com que muita gente acabe associando esse termo a regras muito rígidas, radicalismos, privações e, sobretudo, comida sem graça e sem sabor.

E assim as crenças vão ganhando força e todo mundo começa a acreditar que tudo que é gostoso engorda, que não se pode mais comer fruta ou verdura porque estão cheios de agrotóxico, que açúcar é um veneno e que quem come comida industrializada com certeza vai ter câncer.

Não é à toa que vemos um número cada vez maior de pessoas com quadro de ortorexia, termo descrito pela primeira vez em 1996 ("ortho" = correto; "orexis" = apetite) pelo médico Steven Bratman.

Ela é caracterizada pela fixação por uma alimentação saudável e limpa. O objetivo principal de quem desenvolve esse tipo de comportamento não é necessariamente emagrecer, mas sim, manter uma alimentação 100% pura (eat clean). Geralmente, a pessoa se orgulha disso e às vezes até se sente superior, porque consegue comer "clean" quando a maioria das pessoas não consegue.  

Muitos se sentem no controle da situação, e na maioria dos casos são os familiares que começam a se preocupar e achar que o comportamento está fugindo do normal.

Apesar de ainda não ser reconhecida como transtorno alimentar pelo DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), a ortorexia já é uma realidade nos consultórios e hoje temos sinais muito claros que indicam uma predisposição para este tipo de problema.

Fique atento a 5 sinais que indicam tendência à ortorexia

1. Vive em dieta restritiva

Quem vive entrando e saindo de dieta restritiva é alvo fácil da ortorexia. Eu sempre falo das implicações físicas negativas desencadeadas pelas dietas, mas, nesse caso, o que pesa mais é o comportamento. A restrição pode fazer com que as pessoas desenvolvam um verdadeiro pavor de certos alimentos, com medo de não ser saudável.

Muitos acabam parando de ouvir o próprio corpo, se desconectando dos sinais de fome e saciedade e já não sabem mais o que é "comer normal". Sinal de alerta, na certa!

2. Preocupação exagerada com a comida

Outro sintoma bastante comum é quando a comida passa a ser a principal fonte de preocupação da pessoa. Além de dedicar boa parte do dia planejando as refeições e tentando esmiuçar detalhadamente a composição nutricional e a origem dos alimentos, existe uma tendência a fazer mudanças radicais por conta própria.

Por exemplo: cortar o glúten e lactose, ainda que não tenha diagnóstico de intolerância. Ou riscar de vez do cardápio a gordura, o açúcar, ou qualquer coisa industrializada ou não-orgânica.

Sim, eu sempre falo que uma alimentação saudável é aquela que é composta por mais alimentos in natura e menos ultraprocessados. Se o item for orgânico pode ser interessante também, mas não a ponto de buscar somente esse tipo de alimento! Tanto radicalismo também pode ser prejudicial para a saúde mental.

3. Se punir por "comer errado"

Quem tem ortorexia tende a se sentir "sujo" ou culpado quando come algo que está fora do seu roteiro. Isso pode mexer com o humor, com a autoestima e até com a própria felicidade.

Esse tipo de pensamento pode gerar comportamentos compensatórios, como jejum, atividade física excessiva ou dietas ainda mais restritivas, no intuito de "limpar" o organismo.

4. Vida social abalada

Churrasco no domingo? Festa de criança cheia de coxinha, refrigerante e brigadeiro? Essas coisas, que deveriam ser vistas como momentos felizes, viram um verdadeiro problema na vida de quem tem ortorexia.

É comum acabar se isolando (recusando convites) ou levando a própria comida. Não estou falando daqueles que precisam evitar certos alimentos por indicações médicas. Mas sim, de pessoas que estão com a saúde em dia, mas não se permitem comer!

Agora eu te pergunto: é saudável comer salada enquanto todo mundo está comendo bolo? Ou é mais saudável comer salada no seu dia-a-dia e, nos momentos de celebração, se dar o direito de experimentar as coisas que as demais pessoas estão comendo?

5. Sinais físicos

Em um estágio mais avançado da ortorexia, podem aparecer sinais físicos em decorrência da restrição alimentar. Pode ser desencadeado um processo de desnutrição, gerando sintomas como queda de cabelo, unhas quebradiças, perda de peso, pele ressecada, dor de cabeça, desmaios, irritação, dificuldade de concentração, falhas no ciclo menstrual, entre outros.

Saudável é bom. Saudável demais, nem tanto

Como eu sempre digo, o comportamento é tão importante quanto os nutrientes e as calorias que ingerimos! Preocupar-se com a qualidade da alimentação, tentando comer mais comida fresca e caseira e tendo uma vida ativa, de fato, é a base para se alcançar uma saúde invejável.

Mas seria interessante encontrar um equilíbrio e fugir dos radicalismos. Embora a ortorexia seja um distúrbio leve quando comparado a bulimia e anorexia, por exemplo, é algo que mexe muito com a cabeça e pode dar origem a outros transtornos.

É importante estar atento se você se identifica com alguns desses sinais, ou se convive com alguém que demonstra essa preocupação excessiva.

Nesse caso, minha recomendação é buscar um nutricionista (se for especializado em comportamento, melhor ainda!) para voltar a enxergar o ato de comer como algo simples e muito prazeroso.

Bon appétit!

Sophie Deram

Sobre a autora

Sophie Deram é uma nutricionista franco-brasileira, autora do best-seller “O Peso das Dietas”, palestrante, pesquisadora e doutora pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) no departamento de endocrinologia. Defende a importância do prazer de comer para a saúde e a ideia de comer melhor e não menos. Sophie não acredita nas dietas restritivas e no “terrorismo nutricional”. Desenvolve programas online para transformar a relação das pessoas com comida e ensina profissionais de saúde sobre nutrição que alia ciência e consciência.Leia mais no site da Sophie Deram: https://www.sophiederam.com/br/

Sobre o blog

Dicas, reflexões e estudos sobre a relação do nosso corpo com a comida, com foco em alcançar uma relação tranquila com os alimentos e, assim, obter um peso saudável. Esse é um espaço que passa longe dos modismos alimentares. Aqui promoveremos mudanças de hábitos que vão te ajudar a viver melhor. Acredito que o ser humano se nutre de alimentos e sentimentos.