Fazer lipoaspiração sem mudar o comportamento é jogar dinheiro no lixo
Recentemente, falei por aqui da angústia das pessoas que conseguem emagrecer, mas nunca se sentem felizes diante do espelho. Parece que é um saco sem fundo: quando "conserta" de um lado, logo acha um outro defeitinho aqui ou acolá para se preocupar.
Pergunte para as pessoas ao seu redor —sempre vai ter alguém reclamando que precisa perder "alguns quilinhos". Que vai se queixar dos pneuzinhos, da celulite, das estrias. Infelizmente, hoje em dia é raro encontrar alguém 100% satisfeito com o seu corpo, ainda que esteja esbanjando saúde!
A pressão estética que vivemos distorce a imagem que fazemos de nós mesmos, e, com isso, passamos a perseguir um ideal de beleza que não é compatível com a realidade da esmagadora maioria da população brasileira.
Afinal, não é todo mundo que tem cozinheiro, nutricionista e personal trainer particular à disposição, certo? Mesmo isso não garante os resultados idealizados! Então, realmente fica difícil querer ter o corpo das estrelas da TV e da Internet, que, muito frequentemente, nem sustentam o tal do padrão de beleza vigente.
Isso aumenta a angústia e a vontade de procurar soluções rápidas: dietas altamente restritivas, jejuns intermináveis, sucos detox, dia do lixo, remédios para emagrecer e até mesmo a cirurgia bariátrica – que infelizmente tem sido banalizada e vista por muitas pessoas como um método de emagrecimento.
As promessas das cirurgias plásticas
A lipoaspiração é outra alternativa que tem se tornado cada vez mais popular e, atualmente, ocupa o segundo lugar na lista dos procedimentos cirúrgicos de cunho estético praticados no Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Não é à toa que, para muita gente, acabar com a gordura da barriga por meio desta cirurgia é um sonho de consumo. Mas nem todos se dão conta de que, em termos de saúde, não existem benefícios relacionados à esse procedimento, o que o torna exclusivamente estético.
Em outras palavras: se a pessoa não mudar hábitos, pode até ter a barriga "chapada" por algum tempo, mas isso não é sinal de que vai ter uma boa saúde e muito menos que esse abdômen vai durar para sempre.
É preciso entender que qualquer cirurgia oferece riscos. Submeter-se a uma lipoaspiração sem antes resolver as questões alimentares – tanto físicas quanto psicológicas – pode simplesmente ser uma grande perda tempo e de dinheiro, além de colocar a saúde a até a própria vida em risco.
E a cabeça, como é que muda?
Nenhuma solução instantânea pode ser saudável se não houver uma mudança mais profunda nos hábitos alimentares e no estilo de vida. As pessoas que têm uma relação ruim com a comida ou costumam comer por motivos emocionais deveriam resolver isso antes de partirem para métodos mais agressivos como a lipoaspiração.
Deveriam buscar comer melhor, com mais qualidade e com mais consciência. Para evitar que a gordura se acumule, não existe lipo, nem qualquer outra fórmula mágica, além da já bastante conhecida dobradinha entre uma boa alimentação e uma vida ativa.
Até porque essa é a melhor maneira (mais natural e mais barata!) de manter a saúde e também a gordura corporal em níveis adequados, uma vez que ela tem várias funções no nosso organismo. É o que sempre digo: a gordura não é vilã! Se você tentar se livrar dela de forma drástica, o seu corpo vai reagir e lutar para armazená-la, porque ela é uma importante reserva de energia e tem funções endócrinas, pois produz muitos hormônios.
A ciência explica
Estudos têm demonstrado dados interessantes neste sentido e está cada vez mais claro que é preciso mudar o comportamento para conseguir resultados duradouros e que a lipo não é um método de emagrecimento.
Um deles, conduzido pela nutricionista Fabiana Braga Benatti, do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Alimentos e Nutrição (Napan) da USP, examinou como o corpo de mulheres consideradas saudáveis (com IMC médio de 23,8 kg/m²) reagiu à lipoaspiração. Um dos objetivos era identificar se a cirurgia de lipoaspiração faria a gordura sumir definitivamente, mesmo entre as participantes que não praticaram atividade física após o procedimento.
Seis meses depois, as participantes não recuperaram a gordura eliminada pela lipo na parte subcutânea, mas houve um crescimento em outras regiões do corpo, especialmente na gordura visceral. Outro achado interessante foi que as mulheres que praticaram exercício físico regular não recuperaram tanta gordura visceral.
Isso nada mais é do que um mecanismo compensatório, ou seja, o corpo tentando recuperar a gordura eliminada na cirurgia. Ou seja, a lipoaspiração não é tratamento nem cura para obesidade. Ela pode até garantir resultados estéticos imediatos, mas não são sustentáveis a longo prazo, sem aumentar atividade física.
O Brasil da cirurgia plástica
Segundo a International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS), o Brasil é o segundo país no mundo com maior número de cirurgia plástica, só perdendo para os Estados Unidos.
Esse é um sintoma dessa busca desenfreada pelo padrão magro, que não é necessariamente sinônimo de saúde. Então, antes de se submeter a qualquer método que tenha que colocar sua saúde em risco, avalie todas as possibilidades antes.
Consulte um nutricionista especializado na área comportamental e reveja sua relação com a comida e seu estilo de vida. Mudar hábitos pode ser mais demorado do que a recuperação de uma lipoaspiração. Mas sem dúvida é mais sustentável, barato, menos arriscado e muito mais prazeroso, porque poder comer sem culpa e ser ativo é um dos maiores presentes que você pode oferecer para o seu corpo.
Bon appétit!
Sophie Deram
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