Nem amar, nem odiar: aprenda a aceitar seu corpo como ele é

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Todo ano, mais ou menos no mês de novembro, eu lanço a minha versão de "Projeto Verão". Trata-se de uma crítica bem-humorada ao "projeto verão" e aos "desafios" que vemos por aí, baseado em sacrifícios, dietas absurdas, privação e, claro, muita fome.

Não, não incentivo as pessoas a saírem comendo sem critério algum, até porque eu acredito que a qualidade da nossa alimentação é a principal responsável pela nossa saúde como um todo. Mas tento, por meio de dicas diárias, propor um olhar diferente para o próprio corpo e a saúde.

Ir na contramão de crenças antigas e de mitos que fazem as pessoas acreditarem que são inadequadas, que comem "tudo errado" ou que estão fora do padrão, e, por isso, são fracassadas, preguiçosas ou não têm força de vontade.

Minha ideia de projeto verão funciona mais ou menos assim: em vez de comer de três em três horas, passe a voltar a ouvir seu corpo e comer regularmente quando sentir fome. No lugar de contar calorias, pense na qualidade… e no sabor. Adianta passar um mês comendo coisas que você não gosta, só para entrar num biquíni, e depois exagerar nas festas e ficar com uma culpa enorme? E sabe o que? Isso pode te fazer ganhar mais peso ao longo prazo!

Incentivo as pessoas a procurarem a melhor versão delas mesmas sem agredir o corpo, respeitando os próprios limites. No lugar da busca pela perfeição, perseguir a progressão.

Isso tudo tem a ver com aceitar o seu corpo do jeito que ele é hoje, e tentar fazer o melhor pela sua saúde, justamente porque entende que esse é o caminho do equilíbrio.

Essa ideia está alinhada com o conceito de "Body Neutrality" (Body = Corpo; Neutrality = Neutralidade), que está se tornando cada vez mais conhecido graças a mulheres que se tornaram porta-vozes da luta contra o ódio ao próprio corpo imposto pela cultura das dietas.

Você sabe o que é Body Neutrality?

Este movimento é uma vertente do Body Positive, que motiva as pessoas a se amarem como são, sem se preocupar com medidas, peso, estrias ou celulites. Essa iniciativa é louvável, mas ainda é alvo de polêmica, especialmente entre alguns profissionais da área da saúde que o enxergam como uma apologia à gordura.

Não concordo, e acho que a gordofobia sim é um problema real que deve ser combatido. Por outro lado, procuro enxergar o lado do paciente. Nem todo mundo está pronto para se amar do jeitinho que é. E, nesse sentido, entendo que o Body Positive pode acabar gerando uma pressão muito grande na cabeça das pessoas.

É muito difícil desconstruir um ideal de beleza que foi tão minuciosamente esculpido por décadas nas nossas mentes. É impossível acordar do dia pra noite e se achar maravilhosa, sem se comparar com as musas que estão diariamente nos bombardeando com um suposto "padrão perfeito", presente na mídia e nas redes sociais.  

O Body Neutrality incentiva as pessoas a pensarem menos no formato do nosso corpo e muito mais em tudo o que ele pode nos oferecer.

Afinal, o que significa esse padrão de beleza? Entrar numa calça 38? Ter uma taxa de gordura baixíssima? Usar os recursos mais absurdos para alcançar um peso que, de repente, nem é o mais saudável para você?

Nada disso tem a ver com saúde, mas, ao mesmo tempo, está no imaginário das pessoas como o ideal de perfeição. E, por isso mesmo, é tão difícil para algumas pessoas se amarem como são. A grande maioria sofre odiando o próprio corpo, por não conseguirem alcançar esse ideal.

Dessa forma, acredito que o Body Neutrality seja uma grande oportunidade de mudança para quem vem há tantos anos sofrendo com problemas de imagem corporal.

Se aceitar é o primeiro passo

O conceito de Body Neutrality pode ser algo recente, mas eu já acredito e pratico o conceito da neutralidade há muito tempo. Primeiro porque sou contra essa obsessão pelo peso. O peso pra mim é mais um dado, mas não é o mais importante.

Existem diversos outros indicadores que precisam ser analisados para avaliar a saúde de um paciente, como colesterol, triglicerídeos, circunferência abdominal, humor, estilo de vida etc.

Então, eu prefiro enxergar o peso com neutralidade. Não me importa muito o número que aparece na balança, mas sim, o comportamento e a saúde como um todo.

E o interessante é que quando você para de se pesar, e desliga o foco do peso, as chances de você cuidar melhor do seu corpo são maiores. Alcançar um peso saudável vem como uma consequência!

Não é querer emagrecer a qualquer custo, fazendo dietas malucas, jejuns, gastando com procedimentos que têm pouca comprovação científica e vão te endividar, acreditando em soluções milagrosas. É se perguntar por que você quer emagrecer, e se precisa mesmo. Aprender a focar em outras qualidades do seu corpo, nos seus pontos fortes, em tudo o que ele te permite fazer no dia-a-dia.

É se aceitar no sentido mais amplo da palavra: com generosidade, e entendendo que o que você julga como uma imperfeição na verdade pode ser seu diferencial.

Todo mundo é diferente e essa que é a beleza do mundo. Abrace seu corpo e vá curtir o seu verão! Lembre que para ter um corpo para praia, simplesmente precisa de um corpo e de uma praia 😉

Bom final de ano!!

Sophie Deram