Obcecado pela balança? Estudos mostram que estilo de vida é mais importante

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Muitas pessoas acham que "fechar a boca e malhar" é o único caminho para alcançar saúde e o "corpo perfeito". E assim seguem, determinadas a atingir aquele tão almejado número que não sai da cabeça – o tal do peso dos sonhos.

"Quando eu alcançar esse peso, finalmente vou ser feliz, vou poder usar aquela calça, vou comer o que eu quero, vou colocar biquíni e ir pra praia sem sentir vergonha…". E por aí vai!

Eu entendo essa ansiedade, porque a promessa das dietas restritivas é realmente tentadora. Quantos casos de "sucesso" vemos por aí, não é verdade? Fotos de antes e depois, de pessoas que eliminaram muitos quilos de maneira quase que milagrosa.

O problema é que qualquer medida muito radical é praticamente impossível de sustentar no longo prazo. Isso é normal e natural. Nosso cérebro odeia dieta e restrição, o que faz com que as pessoas voltam a engordar e a entrar para o efeito sanfona. Isso sem falar que se sentem eternamente inadequadas, infelizes com o próprio peso e com uma insatisfação corporal enorme.

"Mas é mais fácil fazer dieta para perder peso"

É, para quem tem urgência, dieta radical pode até ser o atalho mais curto e tentador. Mas para que a pressa, se a ciência já provou que dietas restritivas só trazem resultados no curto prazo? E que mais de 95% das pessoas recupera o peso perdido, muitas vezes ganhando até mais?

O que pode ser realmente efetivo não só para chegar ao peso saudável, mas para sustentá-lo (que é a parte mais difícil), é mudar o estilo de vida como um todo, reavaliando a saúde com check-ups regulares, rever o comportamento, a relação com a comida, o meio ambiente em que vive, o estado emocional, a rotina…tudo isso influencia no peso. Não é uma questão somente do que você come versus o que você queima na academia. COMO você come é tão importante quanto o que você come!

Além disso, diversas pesquisas vêm nos mostrando que o peso não é tudo quando falamos em saúde. Hoje escolhi destacar um estudo muito interessante que comprova a importância de se fazer uma análise mais profunda do estilo de vida, e tirar um pouco dessa tensão a cada vez que você sobe na balança.

Muito além do peso

Pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP acompanharam 58 mulheres com obesidade por sete meses, e tiveram resultados incríveis, que foram muito além do peso!

Durante o período do estudo, as mulheres não receberam nenhum tipo de dieta. No lugar disso, tiveram acesso à aconselhamento nutricional, orientações culinárias, oficinas e palestras e foram estimuladas a fazer atividades físicas que realmente gostavam. No início da intervenção, elas também receberam meu livro, O Peso das Dietas, uma vez que a minha abordagem é totalmente voltada para comer melhor sem fazer dieta restritiva!  

No final do estudo, os pesquisadores não notaram mudanças significativas no peso, IMC ou circunferência da cintura e do quadril. Mas a mudança do estilo de vida foi muito visível, para melhor.

• As mulheres notaram melhorias na capacidade aeróbica e muscular, e se sentiram mais comprometidas com a prática de atividade física.
• Diminuíram o consumo de alimentos ultraprocessados, ao mesmo tempo que passaram a comer mais comida de verdade;
• Relataram estar mais aptas a cozinhar, a planejar as refeições, e a priorizar mais a comida caseira;
• Se tornaram mais capazes de identificar o comer emocional, ao mesmo tempo que aprenderam a ouvir mais os sinais de fome e saciedade;  
• Tiveram melhoras até mesmo com relação à própria imagem corporal, o que acaba contribuindo para diversos fatores da vida (autoestima, vida social, estado emocional, etc.).

O estudo foi publicado em um artigo na revista PLOS One e eu fiquei muito satisfeita por, de alguma forma, fazer parte disso. Estes resultados confirmam tudo o que eu venho falando há muitos anos.

Saúde em todos os tamanhos!

Essa pesquisa foi baseada na abordagem Health at Every Size (HAES), que significa "saúde em todos os tamanhos". Esse conceito tira o foco do peso e enaltece o bem-estar físico e psicológico.

É interessante notar movimentos como esse em um mundo tão obcecado por números! Precisamos, cada vez mais, questionar essas métricas. Sabemos que a obesidade é um problema de saúde pública mundial, e, no Brasil, os índices estão cada vez mais preocupantes.

Mas as pessoas precisam entender que enquanto ficarem correndo atrás de um único número, sem pensar de uma maneira mais ampla na saúde, estarão sempre sujeitas a falhar, porque não estarão resolvendo a raiz do problema.

Geralmente, a falta de tempo, o estresse e excesso de trabalho costumam ser os principais argumentos para as pessoas procurarem soluções imediatistas, como as dietas restritivas, contagem de calorias, dietas detox ou jejuns.

Mas o peso vai ser o reflexo do que você está vivendo. Será que está feliz com sua rotina? Se sente bem com a forma como está se alimentando? Ou vive comendo de forma exagerada, comendo qualquer coisa que vê pela frente, e depois sente uma baita culpa…Depois de tudo isso, já sente uma ansiedade enorme e não hesita em mergulhar em uma nova dieta?

Dá mais trabalho pensar nessas questões? Certamente. É um trabalho de autoconhecimento. Chega de terceirizar a fome, quem é dono do seu corpo e da sua fome é você! Esse impulso para melhorar seu corpo e sua saúde pode ser o primeiro passo para se livrar de coisas que estão incomodando há anos sem você nem se dar conta.  

Procure o apoio de um nutricionista e até de um psicólogo se achar que não consegue fazer isso sozinho. Nesse caminho de descobertas, você pode até retomar o prazer de comer e ganhar, "de brinde", um peso saudável e sustentável por consequência.

Comer em paz! Comer melhor e não menos!
Bon appétit!

Sophie Deram