Suplementos nutricionais são realmente necessários para saúde?

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Os estudos científicos em nutrição têm avançado a passos largos. Isso pode ser considerado bom por um lado, pois quanto mais conhecimento sobre os alimentos, nutrientes e como eles agem no nosso corpo melhor, mas não tão bom por outro lado já que esses estudos têm causado muita confusão no público em geral e até mesmo em profissionais de saúde.

Os alimentos, nutrientes ou suplementos "tendência", como suplementos, mudam o tempo todo. Suplementos são vitaminas, multivitamínicos, minerais, proteínas, aminoácidos, alguns tipos de gordura ou algum composto bioativo com propriedades que vão desde termogênicos a antioxidantes, compostos bioativos e fitoquímicos que são substâncias que têm efeitos terapêuticos quando consumidas. Esses nutrientes e/ou compostos bioativos (esse últimos não são nutrientes, mas são substâncias que podem influenciar positivamente nossa saúde) são isolados de alimentos in natura e concentrados normalmente em cápsulas.

A onda de consumo de suplementos tem levado as pessoas a pensar cada vez mais nos alimentos como nutrientes isolados. Esse pensamento isolacionista da alimentação tem levado as pessoas a focar em nutrientes específicos, buscando ter os benefícios desses nutrientes específicos na saúde. Por isso o consumo de suplementos alimentares tem crescido tanto nos últimos anos.

Porém, assim como tem estudos demonstrando que suplementos alimentares podem ser benéficos em algumas situações específicas, uma preocupação têm surgido na comunidade científica com relação à banalização da suplementação de nutrientes isolados.

Estudos discutem os reais benefícios e necessidade da suplementação alimentar

Se fizermos uma análise mais profunda sobre os estudos que avaliaram os efeitos de suplementos alimentares na nossa saúde, podemos ver que eles não são sempre benéficos ou mesmo seguros para todas as pessoas. Por isso esse assunto é cheio de controvérsias e discussões acaloradas.

Recentemente, um estudo associou em mais de 31 mil adultos, o uso de suplementos e o risco de mortalidade para avaliar o efeito deles na melhoria da saúde.

Os pesquisadores avaliaram pessoas e perguntaram se consumiam ou não algum tipo de suplemento e dividiram essas pessoas em 2 grupos: os que recebiam seus nutrientes somente vindos da alimentação e os que, além de receber nutrientes pela alimentação, tomavam suplementos.

Os pesquisadores acompanharam essas pessoas, avaliando o consumo alimentar e consumo de suplementos delas durante 30 dias. Após esse período de 30 dias, essas pessoas foram acompanhadas por mais de 6 anos. Durante esses 6 anos, 3.613 mortes aconteceram no grupo estudado (mais ou menos 10% dos participantes), incluindo 945 mortes por doenças cardiovasculares e 805 mortes por câncer.

Isso quer dizer que as pessoas morreram por usar suplementos? Não, claro que não. Mas o que o estudo trouxe como informação?

• Que o consumo adequado de vitamina A, K, magnésio, zinco e cobre provenientes da alimentação reduziu a mortalidade por todas as causas, incluindo doenças cardiovasculares;
• Que o excesso de cálcio foi associado com um aumento nos riscos de morte por câncer e essa associação parece ser relacionada ao consumo de suplementos de cálcio.

Os autores assumem as limitações do estudo.

Todo estudo científico tem e sempre terá suas limitações, principalmente quando feitos em humanos que relatam o consumo de algo. É um estudo observacional e depende dos relatos das pessoas sobre tomar ou não suplementos.
As pessoas podem se esquecer ou não saber exatamente a dosagem que consumiram. Mas isso não invalida a conclusão à qual os pesquisadores chegaram: que o uso de suplementos não previne problemas de saúde que podem levar à morte.

Este não é o primeiro estudo que reporta uma falta de benefícios claros do uso de suplementos alimentares.

É importante salientar que suplementação deve sempre ser feita com acompanhamento de profissionais qualificados para isso e quando realmente necessária. Suplementos como minerais e vitaminas podem ter interações com medicamentos que a pessoa toma e interferir na sua ação. Por isso é importante o acompanhamento individualizado de pacientes quando uma suplementação é realmente necessária.

Quando consumidos sem necessidade, os suplementos podem não ter efeito nenhum, ou mesmo trazer problemas para nossa saúde. Nesses 2 casos, eles são desnecessário e até mesmo contra-indicados!

Outra questão é que a regulamentação para a produção e consumo de suplementos é muito rara, quase inexistente. Então a produção e o acesso a suplementos é muito fácil, facilitando o consumo desnecessário.

Comida de verdade continua sendo a melhor saída

Pensar na alimentação isolando nutrientes pode prejudicar nossa relação com a comida, podendo mesmo se transformar em algum tipo de transtorno alimentar. E isso pode ser perigoso!

Nós sabemos que o consumo de frutas, vegetais, grãos integrais e outros vegetais nos protege de doenças crônicas e esses alimentos ainda têm a vantagem de trazer consigo muitos componentes que protegem nossa saúde: nutrientes como vitaminas, sais minerais, fibras dietéticas. Além disso eles trazem também antioxidantes.

O problema é que as pessoas ignoram a sinergia entre os nutrientes existente no alimento in natura. Os nutrientes dentro do alimento trabalham juntos ajudando uns aos outros. A cada dia existem mais evidências de que é a interação entre os compostos bioativos já existentes nesses alimentos contribuem para uma alimentação saudável, nossa saúde e bem estar. Se esses compostos são isolados, pode ser que um desses nutrientes ou compostos bioativos diminua ou perca suas propriedades nutricionais.

Uma dieta variada baseada em alimentos in natura e preparações culinárias usando esses alimentos na preparação pode sim trazer todos os nutrientes necessários para que seu corpo funcione bem e os suplementos acabam sendo na maioria dos casos dispensáveis.

Antes de considerar tomar suplementos, reveja a sua alimentação no seu todo. Coma melhor! Somente após essa avaliação veja se vale a pena considerar o uso de suplementos e sempre com um profissional de saúde especializado.

Comer alimentos verdadeiros continua sendo a melhor saída para se ter uma vida saudável e feliz.

Bon appétit!

Sophie Deram