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Blog da Sophie Deram

Eduque o paladar dos seus filhos com comida de verdade

Sophie Deram

09/10/2019 04h00

Crédito: iStock

Até os seis meses de idade é recomendado que o bebê se alimente exclusivamente do leite materno. Se a mãe não deseja ou não pode amamentar por apresentar determinados problemas de saúde, como infecções virais ou abscesso mamário, indica-se o consumo de fórmulas infantis sob a orientação do pediatra.

Após 1 ano de idade, se a criança passou por uma fase de introdução alimentar tranquila, ela pode comer de tudo, compartilhar das refeições da família e também consumir leite, mas é preciso atenção na hora de comprar esse alimento.

As prateleiras dos supermercados geralmente apresentam uma seção de leite em pó. Lá ficam vários produtos destinados às crianças, inclusive com indicação da idade em que devem ser consumidos. Mas muitos deles não são leite "de verdade".

Composto lácteo não é leite

Primeiramente, é importante você entender a diferença entre três tipos de produtos: o leite, as fórmulas infantis e os compostos lácteos.

Leite é produto da secreção das glândulas mamárias de mamíferos. O de vaca é o mais utilizado na alimentação humana. Ele é comercializado na forma líquida ou em pó, sem adição de outros ingredientes. A partir de um ano de idade o leite pode ser consumido, desde que a criança não apresente intolerância à lactose, alergia à proteína do leite ou outros problemas de saúde nos quais o consumo de leite e seus derivados não é indicado.

As fórmulas infantis e de seguimento são alimentos artificiais enriquecidos com nutrientes e indicadas para bebês de até seis meses e de seis meses a um ano, respectivamente.

Recomenda-se amamentar a criança exclusivamente por seis meses, sem necessidade de oferecer água, sucos ou quaisquer outros alimentos. Isso porque o leite materno é o melhor alimento e contribui para proteger a saúde da criança. Porém, em casos especiais, quando o aleitamento materno não é possível, recorre-se às fórmulas infantis, para substituir ou complementar a amamentação, em conjunto com a alimentação complementar após o primeiro semestre de vida.

Os compostos lácteos são outro tipo de produto que podemos encontrar no mercado. Eles resultam de uma mistura de leite (51% no mínimo) com outros ingredientes, como soro de leite, óleos vegetais, açúcares (muitas vezes com o nome de xarope ou maltodextrina), conservantes, aromatizantes e flavorizantes.

Como saber o que estou comprando? Atenção redobrada aos rótulos

Os compostos lácteos são alimentos ultraprocessados e seu consumo não é indicado para menores de um ano. Mesmo após essa idade não é tão interessante para as crianças. Por conterem açúcares de adição e aditivos, eles podem formatar o paladar, levando o seu filho a preferir alimentos geralmente mais doces.

É preciso muita atenção, pois os compostos lácteos apresentam rótulos bem parecidos com os do leite em pó e fica fácil confundi-los, apesar de serem alimentos bem diferentes. Os pais podem acreditar que estão oferecendo leite para seus filhos, quando na verdade estão dando composto lácteo.

Por ser um produto alimentício destinado ao público infantil, é de suma importância que a embalagem apresente uma advertência informando as mães que aquele alimento não substitui o leite materno e não é indicado para menores de um ano. Essa é uma recomendação do Ministério da Saúde.

No entanto, o que mais encontramos nos rótulos dos compostos lácteos é um forte apelo comercial. É comum as embalagens desses produtos darem destaque para a quantidade de vitaminas e minerais que contêm e para a sua importância no desenvolvimento e crescimento da criança.

No Brasil, a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de 1ª Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL) apresenta um conjunto de normas que regula o comércio e a rotulagem de alimentos e produtos destinados a recém-nascidos e crianças de até três anos. Ela se baseia em diversas legislações, como o Decreto Nº 9.579, que dispõe sobre a temática do lactente, da criança e do adolescente, e a Lei Nº 11.265, que trata da comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância.

Esses instrumentos proíbem, entre outras coisas, as propagandas de fórmulas infantis e a utilização de frases ou expressões nos rótulos que identifiquem o produto como mais adequado para a alimentação infantil. Também impedem a utilização de informações que possam induzir o consumo dos produtos em decorrência de falsa vantagem.

No entanto, essas legislações e normas deixam brechas. Apesar da NBCAL tratar de "outros alimentos ou bebidas à base de leite ou não", não traz o termo "composto lácteo".

Assim, até o momento, a melhor forma de escolher os alimentos para nossos filhos é ler os rótulos com atenção especial.

Em letras bem menores do que aquelas que mostram as vantagens do produto, encontramos a lista de ingredientes, em ordem decrescente. O primeiro ingrediente é aquele que está contido em maior quantidade, seguido dos demais, em menores quantidades. Atente-se também para os nomes de aditivos que você não conhece, geralmente aromatizantes e até conservantes, que ajudam na palatabilidade e durabilidade do produto.

Quer oferecer o alimento? Dê leite de verdade para seu filho

Se deseja oferecer leite ao seu filho, dê leite de verdade, fluido ou em pó, e inicie a introdução alimentar com opções naturais, frescas e de preferência caseiras de todos os grupos alimentares.

A introdução pode ser realizada a partir de diversos métodos, como o responsivo e BLW (Baby Led Weaning), de acordo com a adaptação do bebê. Isso é muito importante. Falei em idades bem definidas, mas com o bebê não funciona de forma tão certinha. Ele tem o seu tempo e pode levar um pouco mais ou um pouco menos para se acostumar com a alimentação. Você pode procurar um nutricionista materno infantil para auxiliar nesse processo.

Quando a fase de introdução alimentar estiver finalizada, seu filho já pode ser apresentado a todos os alimentos. Mas sempre com cuidado e moderação. Como sabem, não gosto de demonizar nenhum alimento. Na verdade, isso é válido para pessoas de todas as idades. Já sabemos que comer alimentos frescos e caseiros é recomendado pelo Guia Alimentar para a População Brasileira como uma das melhores formas de termos saúde. Aliado a isso, é importante dar bom exemplo aos filhos, oferecer as refeições em um ambiente tranquilo e ter uma boa relação com a comida.

Como sempre digo, criar um filho em paz com a comida e o corpo é o melhor presente que você pode dar a ele. Se tiver alguma dúvida de como lidar com a alimentação da sua criança, entenda de onde vêm as dificuldades alimentares e procure profissionais especializados.

Bon appétit!

Sophie Deram

Sobre a autora

Sophie Deram é uma nutricionista franco-brasileira, autora do best-seller “O Peso das Dietas”, palestrante, pesquisadora e doutora pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) no departamento de endocrinologia. Defende a importância do prazer de comer para a saúde e a ideia de comer melhor e não menos. Sophie não acredita nas dietas restritivas e no “terrorismo nutricional”. Desenvolve programas online para transformar a relação das pessoas com comida e ensina profissionais de saúde sobre nutrição que alia ciência e consciência.Leia mais no site da Sophie Deram: https://www.sophiederam.com/br/

Sobre o blog

Dicas, reflexões e estudos sobre a relação do nosso corpo com a comida, com foco em alcançar uma relação tranquila com os alimentos e, assim, obter um peso saudável. Esse é um espaço que passa longe dos modismos alimentares. Aqui promoveremos mudanças de hábitos que vão te ajudar a viver melhor. Acredito que o ser humano se nutre de alimentos e sentimentos.