Você é "chato pra comer"? Veja dicas para se livrar de vez dessa má fama

Crédito: iStock
"Adulto com paladar infantil". Falando assim parece até bonitinho, mas para muita gente essas pessoas não passam de "chatas para comer". Na maioria das vezes, fica uma situação constrangedora para todo mundo: quem cozinha não sabe como agradar; já o ser humano em questão não sabe onde enfiar a cara ao ter que separar no prato as coisas que não gosta. O indivíduo tem apetite, mas não aceita comer uma grande variedade de alimentos.
Claro que ninguém é obrigado a gostar de tudo. Por outro lado, ninguém deveria se sentir no direito de fiscalizar o prato alheio, reparando no que as pessoas comem ou deixam de comer.
De qualquer forma, se você sente que é muito seletivo, a ponto de ter trabalho para comer fora de casa ou de alterar a rotina alimentar das demais pessoas que convivem com você, talvez seria interessante analisar de onde surgiu essa repulsa por determinados alimentos e rever sua relação com a comida. Será que você não gosta mesmo de certas coisas ou cresceu condicionado por esse pensamento e nunca tentou mudar?
No caso das crianças extremamente seletivas e pouco flexíveis para experimentar novos alimentos, tratamos como casos de "picky eaters", algo considerado como distúrbio alimentar. Trata-se de uma espécie de seletividade e até fobia em torno de determinados alimentos, e a criança tende a reclamar do cheiro, da textura ou da aparência. Quando esse diagnóstico é fechado na infância, o ideal é aliar acompanhamento nutricional com nutricionista especializada e psicológico, com grandes chances de sucesso. Caso contrário, o comportamento pode ser carregado para a vida adulta.
Mas nem todo adulto com paladar de criança necessariamente foi um "picky eater". Às vezes, a aversão vem de um trauma ou mesmo do ambiente em que cresceu. Se passou a maior parte da vida comendo mais alimentos ultraprocessados (biscoito recheado, macarrão instantâneo, refrigerante, batata chips, nuggets) e teve pouco contato com comida de verdade, realmente pode ficar difícil despertar, do dia pra noite, uma vontade de devorar uma couve-flor.
A boa notícia é que, ao contrário do que muita gente pensa, o nosso paladar pode ser moldado mesmo depois que crescemos. Então, se você tem um paladar infantil e acha que está velho demais para mudar seus gostos, é hora de rever suas crenças.
Mas mudar para que?
O primeiro bom motivo para se abrir a novos sabores é realmente melhorar a qualidade alimentar. Nosso corpo gosta de variedade de nutrientes –não é à toa que quando você vai ao nutricionista ele vem com aquele papo de que devemos tentar incluir na rotina todos os grupos alimentares.
Diversificar a escolha de frutas, legumes, verduras, grãos, carnes e outros alimentos faz muito bem para a saúde e previne uma série de doenças, além de ajudar na manutenção do peso saudável. Quem tem paladar infantil tende a focar somente em alimentos ricos em gordura e açúcar, algo que, em excesso, pode prejudicar a saúde.
Indo um pouco para o lado comportamental, existem outras boas razões para melhorar sua relação com a comida. Começando pela vida social: quem tem muitas restrições acaba se preocupando demais quando é convidado para um almoço ou jantar; quando come fora de casa ou quando viaja, porque nem sempre vai encontrar o mesmo tipo de comida que está habituado a comer "no automático", no conforto do seu lar.
Imagine quantas oportunidades perdidas de conhecer novos sabores? A alimentação de quem é muito seletivo acaba ficando chata e monótona, sem muita criatividade.
Para quem tem filhos, então, isso pode se tornar um grande problema. Todo mundo sabe que os pais são espelhos. Então, se você torce o nariz para o brócolis, não adianta exigir que seu filho experimente.
Do ponto de vista prático, também é bem mais fácil lidar com quem é flexível na hora de comer. É mais simples, para quem cozinha, inventar novas combinações, se todo mundo está aberto a mudar os hábitos alimentares para melhor. Que tal tentar?
Depois de "velho", dá para mudar sim
Um pequeno estudo publicado em 2014 na revista Nutrition & Diabetes observou que é possível mudar o sistema de recompensa no cérebro e as preferências por alimentos. Foi uma notícia sensacional, que mostra o quanto é válido tentar mudar seus hábitos. Para mudar, não precisa restringir ou cortar as coisas que você mais gosta de comer, mas desenvolver, com repetições cotidianas, gostos e hábitos mais saudáveis, melhorando a qualidade alimentar e o comportamento diante da comida.
Posso confirmar que isso funciona com base na minha experiência clínica. Vejo muitos pacientes "desmamando" o paladar dos doces, por exemplo, a partir do momento que passam a fazer as pazes com a comida e a comer com moderação e consciência. Se você está disposto a mudar e melhorar a qualidade da sua alimentação, veja essas dicas que podem ser úteis:
- Comece experimentando os alimentos que você acha mais fácil aceitar, e não pelos que mais detesta. Pesquisas indicam que as crianças precisam experimentar, pelo menos, de 7 a 10 vezes o mesmo alimento para aceitá-lo. Às vezes precisamos de mais tempo para entender e apreciar o sabor de certas coisas;
- Seja criativo. Se não gosta de cenoura crua na salada, experimente assá-la com ervas. O sabor fica concentrado e o aroma fica delicioso. Teste também ela picadinha no meio do arroz, ralada fininha e recheando uma omelete… As coisas apresentam um sabor diferente de acordo com a forma como são preparadas;
- Se envolva mais com a comida. Vá às compras, à feira, mexa mais com os alimentos. Por que não aprender a cozinhar? Assim, você aguça os sentidos e pode se tornar mais receptivo aos novos sabores.
No Brasil, felizmente a diversidade de alimentos frescos, legumes e frutas é enorme. É um desperdício passar a vida toda comendo as mesmas coisas, não é verdade? Experimente mudar. E bon appétit!
Sophie Deram
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