Mindful eating é a nova dieta restritiva: fuja dos "pseudo" coachings

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Se você é uma pessoa antenada no assunto "dietas", com certeza já está por dentro do termo "mindful eating", que, no Brasil, também chamamos de "comer com atenção plena". O conceito, que até algum tempo atrás não era muito conhecido, hoje já está bem mais popularizado.

Seria uma ótima notícia se somente profissionais sérios estivessem falando sobre isso –o que, como você pode imaginar, não é o que vem acontecendo. Diante da crise de saúde pública que enfrentamos no mundo todo com o crescimento exponencial de pessoas sofrendo de excesso de peso, empacotar soluções que prometem o tão sonhado emagrecimento virou um grande negócio.

Você já deve ter reparado como as tendências nessa área flutuam ao longo do tempo: dieta de todo tipo, como da sopa, da lua, etc.. Os modismos são intermináveis e geram muito lucro.

A partir do momento em que começou-se a falar mais que as dietas restritivas não funcionam, e, na verdade, colocam muitas vezes até a saúde em risco, abriu-se um grande espaço para uma abordagem mais voltada para o lado comportamental. O que, repito, é ótimo!

Eu sempre bati na tecla de que não adianta focar todos os esforços somente nos nutrientes e nas calorias. O ser humano se nutre de alimentos e também de sentimentos. O comportamento é tão importante quanto o nutriente.  É importante avaliar se você tem uma relação ruim com a comida, um comer com culpa ou por motivos emocionais.

Mas é preciso ter senso crítico para filtrar as informações que você ouve por aí. E, como venho notando muita informação equivocada sobre a maravilhosa técnica do mindful eating, resolvi esclarecer algumas coisinhas por aqui.

Mindful eating não tem nada a ver com controle

Em primeiro lugar, se você ler ou ouvir que o mindful eating vai te ajudar a ter mais controle diante da comida, desconfie! A proposta é justamente o contrário: reaprender a ouvir o corpo e ter compaixão por ele. Respeitar sua fome, suas vontades, e seus sinais de fome e saciedade.

É claro que é importante administrarmos a quantidade de comida e nossas escolhas alimentares, mas é uma ilusão acharmos que podemos controlar o nosso apetite, o nosso peso, nossas reações metabólicas ou a reação do nosso organismo diante de determinados alimentos.

Sendo assim, o mindful eating nunca deveria ser associado a metas de emagrecimento. Até porque perder peso não é o objetivo principal, mas sim, uma consequência possível a partir do momento em que o paciente amplia sua consciência alimentar.

Mindful eating não tem nada a ver com #focoforçafé

O discurso da força de vontade e da disciplina, tão disseminado pela cultura das dietas restritivas e do conceito de "no pain, no gain", nada tem a ver com mindful eating.

O nosso corpo não é uma máquina: temos vontades, temos cansaço, temos variações hormonais. Se você falha em uma dieta, não é sinal de que não tem "foco, força e fé", mas sim, que não está dando para o seu corpo o que ele está pedindo: comida.

Por isso, o mindful eating vai na contramão desse discurso e incentiva as pessoas a se reconectarem com seus sinais internos. As evidências mostram que a partir do momento em que elas passam a se ouvir mais, a compulsão pode diminuir e fica mais fácil administrar o apetite. Sem sofrimento, sem ter que passar fome.

Mindful eating não é dieta!

Dentro do mindful eating, não existe jeito certo ou errado de comer. Não existem alimentos que engordam ou que ajudam a emagrecer. Esse extremismo não tem nada a ver com a técnica, que, ao contrário, incentiva as pessoas a ficarem mais neutras diante da comida: sem julgamento, sem ter que fazer despedida para encarar uma dieta restritiva depois, sem a necessidade de controlar cada caloria que põe no prato.

Existem profissionais no mercado que se vendem como coaches de mindful eating mas, infelizmente, estão distorcendo o conceito e levando para o lado do extremismo. É como se duvidassem da capacidade inata e intuitiva das pessoas de comerem de forma consciente e sem exagero.

Trabalho com essa abordagem há tempo suficiente para garantir que, sim, as pessoas conseguem encontrar esse equilíbrio, mesmo depois de "se autorizarem" a comer de tudo.

O que é mindful eating, então?

É estar no presente na hora de comer, e manter-se aberto, com curiosidade e sem julgamentos. Perceber seu próprio corpo de forma mais intuitiva e se tornar consciente dos seus pensamentos, sensações, emoções e do ambiente à sua volta.

Prestar atenção na comida e comer quando estiver com fome. Parar de comer quando ouvir o sinal de saciedade e satisfação. Ou seja, mindful eating é um convite para se reconectar com seus sinais internos.

Falando assim, de maneira conceitual, pode parecer algo muito abstrato. Já dei neste blog 4 dicas práticas de como realizar isso no seu dia-a-dia. O fato é: livrar-se de hábitos que fazemos no automático nos ajuda a comer de forma mais consciente, e isso leva a comer melhor e por consequência, pode levar a comer menos, saboreando mais.

Coisas simples como prestar atenção aos seus cinco sentidos enquanto está comendo (algo que não nos lembramos, diante de tantos estímulos), podem trazer bons resultados para quem busca esse equilíbrio.

Estudos na área têm relacionado a atenção plena a escolhas alimentares mais saudáveis. Mas antes de pensar em emagrecer, pense em fazer as pazes com seu corpo e com a comida. Essa é a forma mais consciente e concreta de alcançar sua saúde física e mental.  

Bon appétit!

Sophie Deram