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Para um peso saudável na gravidez, coma em paz e sem radicalismos

Sophie Deram

19/09/2018 04h00

Crédito: iStock

A cobrança pelo "corpo perfeito" é algo que atinge grande parte das mulheres, conforme demonstram pesquisas no mundo todo sobre insatisfação corporal. Mais do que isso, hoje em dia atinge também as mulheres grávidas.

Com a proliferação de "casos de sucesso" de famosas que voltam ao peso inicial como num passe de mágica, o interesse sobre o tema aumentou ainda mais. A pergunta "quantos quilos posso engordar durante a gestação" é presença garantida nos consultórios.

Claro que a preocupação em não ganhar um peso exagerado durante os nove meses é importante, por isso, é fundamental que a mulher tenha acompanhamento médico e nutricional desde o início da gestação. São eles quem vão monitorar o ganho de peso e dizer se está dentro do normal.

Esse número pode variar, bem como o tempo de recuperação do corpo após o nascimento. Como eu sempre digo, o peso depende de diversos fatores, não só da alimentação, mas também do estilo de vida, histórico familiar, idade, genética, nível de estresse, qualidade do sono etc.

Por isso não é nem um pouco responsável ficar se comparando com as notícias que aparecem por aí. Cada corpo é único e tem necessidades diferentes.

Estou acima do peso e engravidei. E agora?

As mulheres que já engravidam acima do peso sofrem uma pressão ainda maior. Geralmente são alertadas sobre os riscos de terminar o ciclo com um peso maior do que o inicial.

Sim, existem riscos ligados à obesidade durante a gestação, tanto para a mãe quanto para o bebê. O excesso de peso está associado a uma maior incidência de problemas como diabetes gestacional, infecção urinária, trombose pré-eclâmpsia, problemas cardíacos e complicações cirúrgicas no parto.

Já o bebê poderá nascer com um peso maior (acima de quatro quilos), ter mais risco de hipoglicemia, malformações congênitas ou até não resistir ao parto. Diante disso, está mais do que claro que sim, o peso é um fator importante para uma gravidez saudável.

Mas não gosto do terrorismo que é feito em torno dessas métricas, números e metas. Porque isso pode acabar estressando ainda mais a mulher e ela pode até se descontrolar mais diante da comida.

Sendo assim, se você engravidou já acima do seu peso saudável, por que não aproveitar esse momento da vida para rever sua alimentação e seus hábitos diante da comida? De repente você pode descobrir um novo estilo de vida muito prazeroso e saudável para você e para o seu filho.

Por outro lado, se você engravidou e está dentro do peso saudável, isso não é desculpa para comer tudo o que vê pela frente. O segredo é sempre o equilíbrio!

De bem com a comida

A gestação é um ótimo período para reavaliar hábitos. Muitas mulheres se sentem mais motivadas a abandonar antigas práticas restritivas em nome da saúde do bebê, e, consequentemente, acabam adotando uma alimentação mais equilibrada. Então, deixo algumas dicas que podem ajudar muito quem está em busca desse caminho.

1. Dieta restritiva: nem pensar

Jejuns prolongados, cortar grupos alimentares inteiros, passar fome ou fazer dietas muito restritivas … Nada disso é recomendado, do ponto de vista da saúde, para ser humano nenhum, muito menos para uma mulher grávida.

Se você fica com muito medo de engordar, e, por isso, come menos do que o seu corpo está pedindo, pode acabar prejudicando você e o bebê. Porque pode ser que ele não receba todos os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento.

E se você vive de dieta, atenção redobrada… Para quem tem histórico de dieta pode sentir um apetite ainda maior, porque o corpo tentará compensar a restrição do período anterior. A dica aqui é tentar se alimentar regularmente, com comida de qualidade, para não sentir que está sempre com fome.

2. Comida de verdade e regularidade

Para manter-se bem nutrida, o interessante é tentar fazer as refeições principais mantendo uma rotina, isso é ótimo para o corpo. Então em vez de ficar contando calorias ou pensando em quantas gramas você engordou na última semana, gaste mais tempo e energia planejando suas refeições. Café da manhã, almoço, café da tarde e jantar (e lanche da manhã, se sentir fome), com comida fresca e caseira, se alimentando preferencialmente com alimentos in natura e com menor presença de ultraprocessados.

Se você trabalha fora, que tal levar a própria comida? Ou então escolher um restaurante que ofereça comida fresca, e que você tenha mais variedade e opção de escolha? Olha aí, que ótima oportunidade para adotar um hábito que pode ser levado mesmo depois que o seu bebê nascer!

3. Comer por dois? Desejo de grávida? Cuidado com os mitos

Sim, o apetite aumenta durante a gravidez. Mas o seu bebê é muito pequeno para você justificar que precisa comer por dois! A gravidez, com a mudança de hormônios, pode sim aumentar a fome e talvez precise comer um pouco a mais, mas não o dobro.

No caso do famoso "desejo de grávida", minha recomendação é: respeite suas vontades, porque vontade reprimida pode virar um exagero e uma perda de controle mais tarde. Mas tente comer com moderação, respeitando sua fome, sentindo o sabor, curtindo o momento e praticando os princípios do mindful eating. Dessa forma, você terá mais chances de se saciar comendo uma quantidade menor. Confie no seu corpo!

4. Hormônios a mil e o comer emocional

A gestação faz com que a taxa de alguns hormônios fiquem mais elevadas. Então, além da fome, o psicológico também fica alterado. A minha recomendação: tente compreender seu corpo e se conhecer melhor. Aproveite estes nove meses para se reconectar com seus sinais de fome e saciedade e entendendo melhor as suas emoções.

Quando a ansiedade bater, ou qualquer outro sentimento que te leve a pensar em comer para "aliviar" essa tensão, procure gastar essa energia fazendo outras coisas que tragam prazer.

Fique atenta para evitar o comer emocional, isso é um exercício que vale muito a pena e pode ajudar não só a manter um peso saudável durante a gravidez, mas depois e durante a vida toda!

Bon appétit!

Sophie Deram

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Sobre a autora

Sophie Deram é uma nutricionista franco-brasileira, autora do best-seller “O Peso das Dietas”, palestrante, pesquisadora e doutora pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) no departamento de endocrinologia. Defende a importância do prazer de comer para a saúde e a ideia de comer melhor e não menos. Sophie não acredita nas dietas restritivas e no “terrorismo nutricional”. Desenvolve programas online para transformar a relação das pessoas com comida e ensina profissionais de saúde sobre nutrição que alia ciência e consciência.Leia mais no site da Sophie Deram: https://www.sophiederam.com/br/

Sobre o blog

Dicas, reflexões e estudos sobre a relação do nosso corpo com a comida, com foco em alcançar uma relação tranquila com os alimentos e, assim, obter um peso saudável. Esse é um espaço que passa longe dos modismos alimentares. Aqui promoveremos mudanças de hábitos que vão te ajudar a viver melhor. Acredito que o ser humano se nutre de alimentos e sentimentos.