Nutrição Sem Neura https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br Dicas, reflexões e estudos sobre a relação do nosso corpo com a comida, com foco em alcançar uma relação tranquila com os alimentos e, assim, obter um peso saudável. Wed, 16 Sep 2020 07:00:33 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Veja 8 dicas para meditar enquanto cozinha e aproveitar mais a refeição https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/09/16/veja-8-dicas-para-meditar-enquanto-cozinha-e-aproveitar-mais-a-refeicao/ https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/09/16/veja-8-dicas-para-meditar-enquanto-cozinha-e-aproveitar-mais-a-refeicao/#respond Wed, 16 Sep 2020 07:00:33 +0000 https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/?p=1178

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Cozinhar é uma atividade que torna os alimentos mais comestíveis. Graças a ela pudemos consumir mais energia em um menor tempo e com isso ter um maior desenvolvimento cerebral.

Mas cozinhar também pode ser uma forma de meditação. Pegar um livro de receitas, ou mesmo um vídeo, que nos diz o que fazer com os alimentos pode se assemelhar muito a uma meditação guiada.

O ato de cozinhar no traz para o momento presente, pois é necessário se concentrar. As cebolas não se picam sozinhas e você precisa estar atento ao manusear a faca. Isso torna mais difícil que os problemas ou atividades futuras venham à mente.

Desse modo, cozinhar nos oferece uma ótima oportunidade de estar no aqui e agora, atento e consciente, em vez de distraído, estressado ou sobrecarregado.

Cozinhando você pode treinar a mente e entender o que significa o momento presente, apreciando com paciência e sem julgamentos e transformando um hábito diário em um momento de atenção plena. É também uma oportunidade de voltar a ter contato com os alimentos que consumimos.

Não é à toa que as cozinhas são o coração da casa. É nesse cômodo que nos reunimos, apreciamos a comida e saboreamos a riqueza dos ingredientes.

Se você se permitir, é possível cozinhar e meditar. Enquanto prepara uma comida deliciosa também relaxa e deixa seu cérebro descansar um pouco. Basta cozinhar sem distrações. Mas para quem não acha isso tão simples trago 8 dicas para ajudar nessa experiência.

1. Escolha uma receita

Você pode comprar um livro de culinária, buscar uma preparação na internet ou pedir a receita daquele prato maravilhoso que a sua mãe faz. Também não importa se resolveu cozinhar algo da sua cabeça. O importante é que seja um prato que aprecie. Depois de escolhida é só se organizar para comprar no mercado os ingredientes que não têm na sua casa.

2. Concentre-se

Simplesmente faça uma coisa de cada vez, sem pressa. Deixe o celular de lado, use fones de ouvido se alguém estiver assistindo televisão, ou coloque uma música agradável para tocar.

Ao focar sua atenção nas atividades da cozinha você pode ter uma experiência de meditação, como também pode ser mais fácil lembrar de determinadas coisas, como onde está a tampa daquele recipiente ou se algum alimento está acabando e é preciso comprar mais.

3. Traga ordem para o caos

Que tal deixar tudo organizado antes de efetivamente começar a cozinhar? Separe, higienize, corte os alimentos e organize-os em tigelas. Isso vai tornar a tarefa de cozinhar mais simples e fácil.

Quando dividimos as atividades em etapas menores elas parecem menos complexas e desafiadoras. Portanto, você pode pensar em diversas etapas para o pré-preparo, preparo e limpeza. Não tenha pressa.

4. Siga a receita

Preparar uma receita, seguindo um passo a passo pode melhorar a capacidade de concentração das pessoas que nesse caso podem praticar uma sequência de tarefas que será utilizada no dia a dia. Isso pode contribuir com um tratamento terapêutico se pensarmos naqueles que sofrem com depressão e que podem ficar paralisadas diante de pequenas tarefas do cotidiano, como levantar da cama.

Também não esqueça de colocar um pouco de afeto nessa receita. Mesmo se você estiver apenas fazendo um sanduíche, a comida fica muito melhor quando colocamos um pouco de amor nela. Concorda?

5. Aprecie a refeição

Agora que você terminou a receita, o que acha de continuar o exercício de meditação? Na cozinha, podemos nos conectar com nossos sentidos, nos reunir com familiares e amigos e encontrar momentos de alegria. Aproveite para partilhar a comida, comendo com atenção plena, ou tendo uma alimentação consciente.

Para isso, deguste os alimentos, utilizando todos os sentidos. Coma com os olhos, depois sinta o gosto, o cheiro, a textura dos alimentos na boca e os ruídos que você provocar ao comer, sempre ouvindo os sinais de fome e saciedade do seu corpo.

6. Não faça julgamentos sobre os alimentos

Uma das coisas que a meditação nos ensina é a não julgar nossos pensamentos. Eles podem aparecer e a única coisa que temos que fazer é mandá-los embora.

Quando se trata da comida é muito comum principalmente para quem ainda não conseguiu abandonar a mentalidade de dieta – julgar o que comemos. Ou seja, pensamos “essa comida é gordurosa”, “tem muitos carboidratos” ou “é saudável”.

Essa atitude pode acontecer involuntariamente e contribui muito para sentirmos culpa ao comer. Tente não fazer julgamentos, simplesmente aprecie!

7. Conecte-se com a comida

A menos que você seja um agricultor, nos últimos tempos todos nós estamos cada dia menos conectados com a comida. Não fazemos ideia de onde vêm os alimentos antes de chegarem embalados no supermercado. Isso é uma grande perda, pois comer nos oferece uma grande oportunidade de estarmos mais próximos da comida.

Quando paramos para pensar em todas as pessoas e atividades envolvidas em uma refeição, desde a plantação, colheita, passando pela estocagem nas prateleiras do mercado até o momento que o alimento é preparado e chega a nossa mesa, é difícil não se sentir grato ou conectado.

Essa conexão também está afetada se comemos ao mesmo tempo em que fazemos outras tarefas, pois fica difícil ouvir os sinais de fome e saciedade do nosso corpo. Isso acontece porque estamos distraídos.

Acho provável que você já tenha passado pela experiência de ir ao cinema com um saco cheio de pipoca e, antes de começar o filme, ter se perguntado quem comeu toda a pipoca.

Por isso, em sua próxima refeição experimente diminuir o ritmo e apenas comer, sem telas ou distrações, além de desfrutar da companhia com a qual você está compartilhando uma refeição e conversa, você terá mais prazer em sua comida, se sentirá mais satisfeito e seu sistema digestivo irá agradecer.

8. Aproveite os benefícios para a saúde de cozinhar

Por fim, aproveite todos os benefícios que cozinhar pode nos proporcionar. Além de ser uma forma de meditação, também nos permite consumir mais alimentos in natura e ter mais consciência do que estamos consumindo. Sem falar que quando conhecemos os alimentos e nos concentramos na hora da refeição fica mais fácil comer com prazer e sem culpa!

Bon appétit!

Sophie

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Açúcar não é a causa do diabetes: conheça 5 mitos sobre a doença https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/09/02/acucar-nao-e-a-causa-do-diabetes-conheca-5-mitos-sobre-a-doenca/ https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/09/02/acucar-nao-e-a-causa-do-diabetes-conheca-5-mitos-sobre-a-doenca/#respond Wed, 02 Sep 2020 07:00:45 +0000 https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/?p=1166

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A prevalência do diabetes tem aumentado em todo o mundo. De acordo com a Associação Americana de Diabetes (ADA), cerca de 10% da população dos Estados Unidos convive com esta doença.

No Brasil a situação não é muito diferente. Dados da Federação Internacional de Diabetes, mostram que 14,3 milhões de brasileiros sofriam com o diabetes em 2015 e estima-se que esse número possa chegar a 23,3 milhões em 2040.

Os diabetes tipo 1 e tipo 2 são os mais conhecidos. O tipo 1 é menos prevalente e caracteriza-se pela destruição das células beta do pâncreas, que são responsáveis pela produção de insulina. Esse hormônio tem um papel vital e capta a glicose circulante no sangue e insere dentro das células.

O diabetes tipo 1 é considerada uma doença autoimune, ou seja, o próprio organismo identifica as células beta pancreáticas como invasoras e ataca-as. Dessa forma, quanto mais a doença avança, menos insulina é produzida, e consequentemente os níveis da glicemia no sangue elevam-se cada vez mais com risco de entrar em coma. Por esse motivo, pessoas com diabetes tipo 1 (também chamado de insulinodependente) devem fazer uso de insulina.

Já o diabetes tipo 2 é mais comum na população. Não é necessariamente caracterizado pela falta de insulina, mas pela resistência das células do corpo ao efeito da insulina. Muita insulina circula no organismo, mas ela não consegue levar a glicose para o interior das células.

Estar bem informado é importantíssimo para prevenir e saber lidar com essa doença. No entanto, existem muitos mitos sobre o diabetes, principalmente o tipo 2, que são disseminados por aí. Eu gostaria de esclarecer alguns deles. Portanto, abaixo você pode conhecer 5 mitos sobre diabetes e dicas para aprender a lidar com esse problema de saúde.

Mito 1: O açúcar é a causa do diabetes

Este é um dos mitos sobre diabetes. Realmente, consumir um excesso de açúcar pode complicar o controle do diabetes, mas o açúcar sozinho não causa esta doença. Os principais fatores de risco para o diabetes tipo 2 incluem excesso de peso ou obesidade, sedentarismo, o hábito de fumar e ter uma alimentação pobre em nutrientes.

Dica: limitar o consumo de alimentos com alto teor de açúcares é uma boa opção para ter uma alimentação saudável.

Uma alimentação saudável não é somente evitar o açúcar como tem sido bastante divulgado. A culpa não é somente do açúcar de mesa. Também é importante limitar as bebidas doces, ou com adoçantes, e diminuir alimentos processados e ultraprocessados carregados de gorduras e açúcares.

Uma alimentação saudável deve incentivar o consumo de mais alimentos ricos em fibras, castanhas e outras oleaginosas, sementes, grãos integrais, legumes, verduras e frutas, como também praticar atividade física e não fumar.

Mito 2: Eu só preciso me preocupar com a glicemia

Embora o controle da glicemia, ou seja, do açúcar no sangue seja fundamental, não é o único fator importante. O diabetes tipo 2 também pode causar problemas no metabolismo das gorduras, alterando os níveis de colesterol no sangue, a pressão arterial, a inflamação, a função dos vasos sanguíneos, a coagulação do sangue e o sistema imunológico.

Muitos tratamentos com medicamentos para diabetes têm como alvo apenas os níveis de açúcar no sangue, deixando essas outras complicações inalteradas. No entanto, elas precisam de atenção, pois aumentam muito o risco de doenças cardiovasculares, bem como de câncer e infecções.

Dica: foque em adquirir hábitos saudáveis e adira ao tratamento medicamentoso necessário para melhorar sua saúde de uma forma geral e para ter mais qualidade de vida.

Mito 3: devo evitar todos os carboidratos

Este também é um dos mitos sobre diabetes que mais provoca dúvidas. Como os alimentos que contêm carboidratos podem aumentar os níveis de açúcar no sangue mais do que outros alimentos, muitas pessoas com diabetes acreditam que precisam limitar severamente a ingestão de todos os carboidratos. Isso não é necessário. Também, frutas, legumes, vegetais e grãos contêm carboidratos e devem estar presentes na alimentação de pessoas com diabetes.

Dariush Mozaffarian, reitor da Friedman School e editor-chefe da Tufts Health & Nutrition Letter teme que uma tendência crescente para dietas cetogênicas, com um teor muito baixo de carboidratos, esteja levando algumas pessoas a consumir mais carnes processadas e carnes vermelhas. Ele acredita que esse hábito até mesmo ajuda a melhorar o controle do açúcar no sangue a curto prazo, mas pode acabar danificando o pâncreas devido ao excesso de ferro heme proveniente das carnes.

Dica: consumir carboidratos em quantidades adequadas ajudará a controlar o açúcar no sangue, mas não é necessário “cortar” esse nutriente.

Na verdade, a pessoa que convive com o diabetes pode comer de tudo. Nenhum grupo alimentar precisa ser restrito. O que ele necessita é aprender a manejar o problema e para isso é importante que seja muito bem orientado. Saiba mais sobre isso nessa entrevista que realizei com a nutricionista Ticiane Bovi.

Mito 4: Preciso me concentrar em exercícios aeróbicos para perder peso e controlar o açúcar no sangue

Todos os tipos de atividade física são benéficos para o diabetes tipo 2. É importante ressaltar que mesmo sem perda de peso, a atividade física melhora a resistência à insulina, os níveis de glicose no sangue, a obesidade central e a maioria dos outros fatores de risco associados ao diabetes. Portanto, seja ativo pensando na sua saúde, e não no seu peso.

Dica: a Associação Americana de Diabetes recomenda pelo menos 150 minutos de atividade física de intensidade moderada por semana, como caminhada rápida, natação, jardinagem, dança, ciclismo, musculação ou outros esportes. Você pode praticar a atividade por pelo menos três dias na semana, com no máximo dois dias consecutivos sem ela.

Lembre-se! Não se trata de exercitar-se com exagero, mas de manter o corpo ativo através de uma atividade que te proporcione bem-estar e prazer!

Mito 5: O diabetes tipo 2 é incurável

Este é um dos mitos sobre diabetes que tem gerado bastante controvérsias. Embora se diga que o diabetes tipo 2 seja uma doença crônica e alguns especialistas acreditem que não há cura para ele, uma alimentação saudável e a prática de atividade física como parte de um estilo de vida adequado podem melhorar muito os parâmetros metabólicos, reduzir ou eliminar a necessidade de medicamentos e até mesmo levar à normalização completa da glicose no sangue e outras anormalidades fisiológicas observadas no diabetes tipo 2. Isso quando o pâncreas continua funcionando bem, no entanto, o diabetes tipo 2 insulinodependente parece não ser reversível até agora .

Dica: Busque ajuda especializada para orientações nutricionais e melhorar de o seu estilo de vida. Foque na prática de atividade física e em uma alimentação saudável, tendo como base alimentos in natura, que são benéficos, independentemente da perda de peso. Juntos, essas mudanças do estilo de vida podem normalizar os parâmetros metabólicos de muitas pessoas.

*Este artigo é uma adaptação de “Demystifying Type 2 Diabetes”, publicado em 7 de agosto de 2020 na Tufts Health & Nutrition Letter.

Bon appétit!
Sophie

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Vício em comida: mito ou verdade? Entenda melhor essa questão https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/08/26/vicio-em-comida-mito-ou-verdade-entenda-melhor-essa-questao/ https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/08/26/vicio-em-comida-mito-ou-verdade-entenda-melhor-essa-questao/#respond Wed, 26 Aug 2020 07:00:37 +0000 https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/?p=1159

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Não é incomum as pessoas acreditarem que os alimentos são viciantes e podemos encontrar nas mídias uma quantidade considerável de informações sobre como superar o vício em comida. Por outro lado, no meio científico ainda existem muitas controvérsias e perguntas a serem respondidas sobre isso.

Muitas explicações baseiam-se no sistema de recompensa, relacionado, entre outras coisas, à satisfação e bem-estar.

Ao comer e consumir determinados alimentos são liberados neurotransmissores, como a dopamina, responsáveis pela sensação de prazer. Dessa forma, se a ação é prazerosa, tendemos a repeti-la

Isso também acontece com o consumo de drogas, o que serve de argumento para afirmar que comida vicia. Por outro lado, esse argumento cai por terra quando se descobriu que outras atividades também ativam o sistema de recompensa, por exemplo, quando praticamos atividade física.

Para além dos mecanismos de recompensa, outras questões intrigam os cientistas. Um grupo de pesquisadores da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, questionam se, na verdade, acreditar que o vício em comida é real, não poderia contribuir para uma maior falta de controle em relação à alimentação, levando a comportamentos alimentares indesejados.

Os resultados da pesquisa são interessante e foram publicados em forma de artigo na revista Appetite.

Acreditar que o vício em comida é real pode afetar o comportamento alimentar

O objetivo do estudo realizado por esse grupo de pesquisadores foi investigar os efeitos no consumo alimentar e a autopercepção das pessoas como “viciadas em comida” diante da crença de que o vício em comida é real.

Participaram da pesquisa 60 voluntários, 72% deles mulheres e 28% homens, divididos aleatoriamente em dois grupos. Os participantes de um desses grupos deveriam ler um artigo de jornal com afirmações de que vício em comida é cientificamente comprovado, e o outro grupo recebeu um artigo de jornal afirmando ser um mito.

Uma proporção significativamente maior de participantes que leram o artigo de jornal confirmando o vício em alimentos se autodiagnosticaram como viciados em alimentos (57% em relação aos 27% do outro grupo). Também foi observado nesse mesmo grupo um maior consumo de alimentos considerados reconfortantes, como aqueles ricos em gorduras e açúcares.

Essas descobertas sugerem que o endossar a existência de adicção alimentar pode encorajar as pessoas a se autodiagnosticarem como viciadas e a consumirem mais alimentos reconfortantes.

No entanto, não foi determinado até que ponto se perceber como alguém viciado em comida influencia a ingestão de alimentos e como isso pode variar com as diferenças individuais e o contexto alimentar.

Por que as pessoas se denominam viciados em comida?

A diferença marcante no número de participantes que se consideraram viciadas em comida leva a crer que podemos ser influenciados a atribuir ao vício a justificativa para nosso comportamento alimentar. Por isso, os autores defendem que a maioria dos relatos de vício em comida não devem ser vistos como um comportamento aditivo.

Algumas hipóteses sugerem, na verdade, uma relação de ambivalência com os alimentos. A ambivalência, nesse caso, diz respeito a perceber um alimento como “bom, mas não saudável”. Por exemplo, um chocolate pode ser visto como muito gostoso e ao mesmo tempo como um alimento que deve ser evitado.

Pensar assim pode ter consequências e levar à restrição de determinados alimentos, fazendo com que o desejo pela comida se torne mais intenso. Lembrem-se que tudo o que é proibido é mais gostoso!

Assim, as pessoas podem perceber que é difícil resistir à comida e, por isso, muitas vezes consideram que são viciados nela, se autodenominando “chocólatras” ou “viciados em alimentos”, pelo simples fato de comer um pedaço de chocolate todos os dias.

Para os pesquisadores, essas descobertas também lembram um pouco um fenômeno conhecido como Síndrome do Estudante de Medicina, uma tendência de os estudantes relatarem sintomas que são consistentes com a última doença que estudaram. Ou seja, lendo artigos de jornal que comprovam a adicção alimentar, os voluntários acabaram se sentindo viciados em comida.

5 dicas para esquecer o vício em comida

Em vez de pensar que a comida vicia, minha sugestão é que você faça as pazes com a comida. Mas como? Aqui tenho 5 dicas para que você tenha uma boa relação com os alimentos.

1. Abandone a mentalidade de dieta. Em nossa sociedade somos levados a acreditar que é necessário estar sempre fazendo uma dieta. Isso implica adotar um sem número de restrições: cortar o açúcar, a gordura, os alimentos que contém glúten e lactose, evitar alimentos calóricos, e até mesmo ficar sem comer por um tempo!

Geralmente esse comportamento se justifica pelo desejo de ter mais saúde ou um corpo magro. Mas já sabemos que as dietas restritivas não funcionam e não contribuem para um estilo de vida adequado, e que existem pessoas saudáveis de todos os tamanhos e formas.

2. Coma de tudo. Com exceção de alergias ou intolerâncias comprovadas, não há nenhum tipo de alimento que precise estar ausente da sua alimentação. Você pode sim incluir o açúcar na sua rotina sem dietas, e o mesmo vale para as gorduras, para os alimentos que contêm glúten e lactose. Consuma alimentos de todos os grupos alimentares e dê preferência aos alimentos in natura, assim você terá todos os nutrientes que seu corpo necessita para funcionar bem.

3. Perca o medo da comida. Um chocolate não é uma bomba calórica e viciante. Comida é só comida. Nenhum alimento por si só vai te engordar ou tirar sua saúde.

Se você tem medo de determinados alimentos, é comum que a vontade e comê-los aumente. Por outro lado, saborear os alimentos sem medo diminui as chances de exagerar na comida.

4. Ouça seus sinais de fome e saciedade. Nosso corpo envia mensagens para indicar que precisa de energia e nutrientes. Do mesmo modo, ele sinaliza que atingiu a saciedade. Esteja atento a esses sinais, eles são parte da nossa conexão com o corpo e nos ajuda a comer em quantidades adequadas, nem demais nem de menos.

5. Por fim, coma com prazer. Além de comer quando estamos com fome e parar quando estamos saciados, é importante encontrar prazer na comida. Atendo muitas pessoas em meu consultório que consomem certos alimentos apesar de não gostar deles. A comida, além de nos fornecer energia, é uma fonte de prazer. Aproveite o momento das refeições!

Bon appétit!

Sophie Deram

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Alimentos fermentados também podem ser fonte de probióticos https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/08/19/alimentos-fermentados-tambem-podem-ser-fonte-de-probioticos/ https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/08/19/alimentos-fermentados-tambem-podem-ser-fonte-de-probioticos/#respond Wed, 19 Aug 2020 07:00:27 +0000 https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/?p=1151

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Leite, iogurtes, queijos, mas também chucrute, picles e alguns tipos de pães são alimentos fermentados com bactérias ácido- lácticas, algumas das quais têm propriedades probióticas.

Para quem não sabe, ou se confunde, probióticos são produtos alimentares que contêm micro-organismos vivos cuja ingestão pode trazer benefícios à saúde. Os lactobacilos encontrados no leite, por exemplo, apresentam propriedades probióticas. Já os prebióticos são partes não digeríveis dos alimentos, como as fibras, que podem ser fermentados e com isso ativar as bactérias benéficas que coabitam o nosso intestino.

As bactérias ácido-láticas são assim chamadas porque fermentam diferentes tipos de açúcares, produzindo ácido lático. São amplamente estudadas e conhecidas como fundamentais na produção de alimentos fermentados.

Também são reconhecidas pelas suas propriedades probióticas, que inclui uma melhor digestão, regulação do trânsito intestinal e maior resistência contra patógenos. Isso acontece porque os probióticos estimulam a multiplicação de bactérias benéficas, que também competem com os microrganismos maléficos e podem reforçar os mecanismos naturais de defesa do nosso organismo.

As bactérias ácido-láticas têm despertado interesse devido às suas potencialidades para agregar características funcionais a determinados alimentos ou como suplementos.

No entanto, ainda há muito o que se descobrir. Elas precisam sobreviver às barreiras físicas e químicas e depois competir com uma centena de espécies de microrganismos presentes no intestino, para enfim, exercer seus efeitos benéficos.

Na verdade, até então essas bactérias são consideradas componentes da microbiota transitória, vindas do ambiente externo e presentes por períodos variáveis. E ainda não se sabe até que ponto esses microrganismos que ingerimos tornam-se membros da microbiota intestinal do ser humano.

Para tentar responder a essa questão, um grupo de pesquisadores formado por italianos e irlandeses realizaram uma análise genômica, publicada como artigo na revista Nature, fornecendo evidências de que os alimentos fermentados podem ser considerados uma possível fonte de bactérias ácido-láticas para a microbiota intestinal.

As bactérias ácido-láticas estão presentes na microbiota intestinal

Neste estudo foi realizada uma análise do genoma de alimentos e de humanos recentemente sequenciados para investigar a prevalência e a diversidade de espécies de bactérias ácido-láticas com o objetivo de identificar ligações entre o intestino e os microrganismos presentes nos alimentos.

Para isso, analisaram 303 metagenomas alimentares de diferentes alimentos e bebidas fermentadas, incluindo, entre outros, queijo, iogurte e kefir. Também foram analisados 9 445 metagenomas humanos representativos da microbiota de diferentes localizações do corpo (84% do intestino) e de diferentes populações.

Para deixar mais claro, o metagenoma refere-se a uma coleção de genes sequenciada do ambiente que pode ser analisada de uma forma análoga ao estudo de um único genoma.

A partir disso, descobriu-se que as bactérias ácido-láticas do intestino humano se assemelham àquelas normalmente encontradas em alimentos e bebidas fermentados. No entanto, a prevalência é variável e geralmente não são abundantes, sendo as espécies de Streptococcus thermophilus e Lactococcus lactis as mais prevalentes (31,2% e 16,3%, respectivamente).

O consumo contínuo dessas bactérias por meio da alimentação (principalmente laticínios) pode explicar esses achados, sugerindo que vale a pena explorar seu potencial como probióticos.

Por outro lado, uma ampla gama de espécies de Lactobacillus de origem alimentar foi detectada em prevalência mais baixa, sugerindo ser improvável que sejam parte da microbiota intestinal de humanos a longo prazo.

As bactérias ácido-láticas variam na microbiota intestinal com a idade e estilo de vida

O estudo demonstrou que a idade e o estilo de vida, considerando o consumo de alimentos fermentados que variam geográfica e culturalmente (com variações entre populações ocidentalizadas e não-ocidentalizadas) foram os fatores que mais afetaram a abundância de bactérias ácido-láticas na microbiota humana, sugerindo relação com a alimentação.

Por exemplo, a abundância de bactérias ácido-láticas tendeu a aumentar desde a infância até a idade adulta, o que pode ser devido ao aumento do consumo de alimentos fermentados, como iogurte e queijo.

Quanto à região geográfica, as bactérias ácido-láticas relacionadas a alimentos foram mais abundantes nas populações ocidentalizadas, principalmente os lactobacilos.

Por outro lado, a China e outros locais não ocidentalizados abrigaram microrganismos como Leuconostoc e Weissella, provenientes de vegetais e cereais fermentados, apesar de exibirem uma prevalência muito baixa Streptococcus thermophilus e Lactococcus lactis. Isso refletiu o menor consumo de laticínios dessas populações.

Vale lembrar que as populações não ocidentalizadas geralmente apresentam uma alimentação caracterizada pelo alto consumo de tubérculos, raízes e frutas. E geralmente os lactobacilos estão associados a alimentos derivados do leite que são mais abundantes em países da Europa e da América do Norte. Isso também aponta para a diversidade alimentar e importância da cultura na definição de nossos hábitos alimentares.

Mais comida, menos suplementos

Por fim, essa descoberta sugere que consumir alimentos ricos em bactérias ácido-láticas pode enriquecer a microbiota intestinal com efeitos potencialmente benéficos para a saúde, fornecendo uma ideia de quais bactérias ácido-láticas estão presentes no intestino humano. Também abre caminho para o uso da detecção de bactérias ácido-láticas na microbiota como um indicador do consumo de alimentos fermentados.

Para além da pesquisa, vejo esse estudo como um incentivo ao consumo de alimentos. Veja bem, o mercado está cheio de suplementos de probióticos e muitas pessoas os adquirem por pensarem que assim terão mais saúde, mas podem acabar gastando dinheiro à toa e consumindo produtos sem necessidade e em quantidades inadequadas.

Pois, enquanto isso, alimentos que são parte da alimentação da cultura alimentar do brasileiro, como os laticínios, também apresentam bactérias com funções benéficas para o nosso intestino e para a nossa saúde.

É bom lembrar que por si sós esses microrganismos não serão responsáveis por tornar você uma pessoa mais saudável. Do mesmo modo que não adianta consumir suplementos de probióticos sem necessidade, nem orientação, consumir apenas alimentos fonte de bactérias ácido-láticas não é o melhor caminho.

Foque em ter um estilo de vida mais saudável, com bons hábitos de vida (dormir bem, praticar atividade física, cuidar da saúde mental) e uma alimentação equilibrada e variada, preferindo alimentos in natura aos alimentos ultraprocessados, incluindo todos os grupos alimentares:

  • Leguminosas (feijões, lentilha, grão-de-bico).
  • Cereais (arroz milho, trigo, aveia).
  • Raízes e tubérculos (aipim, inhame).
  • Legumes e verduras.
  • Frutas (abacaxi, banana, maçã, mamão, morango, uva).
  • Laticínios (leite, iogurte, queijos).
  • Carnes (de gado, porco, carneiro, aves, pescados) e ovos.

Dessa forma, além de probióticos, sua alimentação irá fornecer todos os nutrientes que o organismo necessita para ter saúde e funcionar bem. E o melhor disso tudo, você poderá comer com prazer, sem restrições e em paz com a comida!

Bon appétit!

Sophie Deram

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Novo guia canadense considera que o peso não define obesidade https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/08/12/novo-guia-canadense-considera-que-o-peso-nao-define-obesidade/ https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/08/12/novo-guia-canadense-considera-que-o-peso-nao-define-obesidade/#respond Wed, 12 Aug 2020 07:00:11 +0000 https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/?p=1145

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A obesidade é uma condição caracterizada pelo excesso de gordura corporal, que pode provocar prejuízos à saúde e aumentar o risco de complicações a longo prazo. É multicausal e está associada a diversos fatores: ambientais, genéticos, biológicos e socioeconômicos.

Nos últimos 30 anos, a prevalência da obesidade aumentou em todo o mundo e, no Canadá, atingiu, em 2016, cerca de 1,9 milhão de adultos. Tornou-se um importante problema de saúde pública, que afeta negativamente a saúde física e psicológica.

Além de ser fator de risco para doenças crônicas, pessoas com obesidade enfrentam bastante preconceito e frequentemente são estigmatizadas, o que não contribui em nada com a adesão ao tratamento, nem para a mudança da situação.

Diante disso, um guia sobre o tratamento de obesidade no Canadá, que não era atualizado desde 2006, ganhou uma nova versão.

Esta atualização do “Obesity in adults: a clinical practice guideline” reflete o aumento do conhecimento sobre a condição, como também os avanços quanto a melhores abordagens para avaliar e gerenciar o excesso de peso. Reconhece que o peso não define obesidade e propõe melhorar os resultados de saúde com foco no paciente, e não apenas na perda de peso.

Não se trata a obesidade fechando a boca e malhando mais

Um artigo publicado na Canadian Medical Association Journal traz um resumo da recomendações do guia canadense. A atualização é focada na obesidade de adultos e seu objetivo é disseminar para os profissionais de saúde, público-alvo deste documento, a gama de opções para avaliar e tratar as pessoas que vivem com obesidade. Também pode ser utilizado por formuladores de políticas públicas, pessoas afetadas pela obesidade e suas famílias.

Os autores alertam que as limitações de recursos e as preferências individuais dos pacientes podem dificultar a aplicação de todas as recomendações, mas elas visam melhorar o padrão e o acesso a cuidados para pessoas com obesidade em todas as regiões do Canadá, dando atenção, inclusive, ao manejo da obesidade em povos indígenas.

O guia considera que o cuidado da obesidade deve ser baseado em evidências científicas e ir além de abordagens simplistas como “comer menos”, “fechar a boca” e “malhar mais”, abordando os seus principais fatores, considerando que peso não define obesidade e combatendo o estigma de peso, que influencia negativamente o nível e a qualidade do atendimento das pessoas que convivem com a obesidade.

Peso não define obesidade e IMC é uma ferramenta limitada

Embora as recomendações sobre obesidade ainda indiquem o uso do IMC (Índice de Massa Corporal) e da circunferência da cintura para avaliar e classificar o excesso de peso, esse guia canadense reconhece as limitações clínicas destas ferramentas. Propõe-se que elas sejam utilizadas para a triagem dos pacientes e que os profissionais de saúde se concentrem mais em como o peso afeta a saúde de uma pessoa do que no número da balança.

De acordo com as diretrizes, pequenas reduções de peso, de cerca de 3-5%, podem levar a melhorias na saúde. No entanto, o peso em que o corpo se estabiliza ao adotar comportamentos saudáveis pode ser chamado de “melhor peso” ou “peso saudável” e não corresponder ao “peso ideal” de acordo com o IMC. Pois o peso não define obesidade, sendo necessários outros parâmetros de avaliação e diagnóstico.

Os autores reconhecem que o tratamento da obesidade deve ter como objetivo melhorar a saúde e o bem-estar, e não apenas a perda de peso, sendo necessárias mais pesquisas para isso, bem como a atualização dos profissionais de saúde.

O guia também chama a atenção para as crenças dominantes sobre as pessoas com obesidade. Elas são muitas vezes rotuladas como irresponsáveis e sem força de vontade, gerando sentimentos como culpa e vergonha, que afetam negativamente a qualidade dos cuidados em saúde.

Por isso, é extremamente importante educar os profissionais de saúde e a sociedade em geral, como também melhorar o acesso a serviços médicos, oferecer tratamento e equipamentos adequados, proteger as pessoas do consumo de produtos e serviços para perda de peso sem fundamentação científica ou com metas insustentáveis, e romper quaisquer barreiras que afetam o cuidado de pessoas como obesidade.

5 orientações para o tratamento da obesidade

Este guia canadense é uma iniciativa muito importante que está em sintonia com o Manifesto para um novo olhar sobre obesidade, um evento que idealizei para discutir possíveis soluções que não tenham a perda de peso como foco e que trate a pessoa com obesidade de forma respeitosa e empática.

O documento traz, ainda, 5 orientações para serem seguidas pelos profissionais de saúde no atendimento a pessoas que convivem com a obesidade que podem contribuir para o modo como avaliamos e tratamos a obesidade. Vou mostrá-las aqui resumidamente.

1. Pedir permissão. Os profissionais de saúde devem assumir que nem todos os pacientes estão preparados para iniciar um tratamento para a obesidade. Por isso, eles devem pedir permissão para oferecer conselhos e ajudar a tratar essa doença de maneira imparcial. Usar frases como “Podemos conversar sobre o seu peso?” pode ser uma forma de demonstrar empatia e de criar vínculo entre profissional e paciente.

2. Avaliar a história do paciente. Para isso, os profissionais de saúde precisam usar medidas apropriadas e identificar as causas, complicações e barreiras ao tratamento da obesidade. Precisamos lembrar que a obesidade é multifatorial e muitas questões podem estar envolvidas, inclusive emocionais. É preciso concentrar-se nos resultados de saúde centrados no paciente e não na perda de peso.

3. Conversar sobre as opções de tratamento. Entre as principais opções de tratamento estão a terapia nutricional e a atividade física, pois sabemos que todas as pessoas, independentemente do tamanho ou composição corporal, se beneficiam da adoção de um padrão alimentar saudável e da prática regular de exercícios físicos.

Terapias auxiliares também podem ser necessárias, como psicoterapia, medicamentos e cirurgia bariátrica. Nesses casos, o paciente deve ser bem informado e ter acompanhamento médico.

4. Definir metas de forma colaborativa. Paciente e profissional devem acordar os objetivos da terapia conjuntamente e construir um plano de ação sustentável, concentrando-se principalmente na saúde, uma vez que peso não define obesidade.

5. Acompanhar o paciente e lutar por um cuidado mais eficaz. Os profissionais de saúde também devem se engajar com os pacientes a partir de acompanhamento e reavaliações contínuas, como também incentivando a melhoria do atendimento à obesidade e o combate ao estigma de peso.

Bon appétit!

Sophie Deram

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Agosto dourado: a importância da amamentação em tempos de covid-19 https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/08/05/agosto-dourado-a-importancia-da-amamentacao-em-tempos-de-covid-19/ https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/08/05/agosto-dourado-a-importancia-da-amamentacao-em-tempos-de-covid-19/#respond Wed, 05 Aug 2020 07:00:53 +0000 https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/?p=1139

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Estamos celebrando a Semana Mundial de Aleitamento Materno 2020 (#SMAM2020). Ela foi criada em 1992 e acontece dos dias 1 a 7 de agosto. Este ano tem como tema: “Apoie o Aleitamento Materno por um Planeta Saudável”, pois considera a importância da amamentação não apenas para a promoção da saúde das crianças e suas mães, mas para todo o meio ambiente. Além disso, o mês de agosto todo costuma ser dedicado ao tema, sendo chamado de “Agosto Dourado”.

A prática do aleitamento pode proporcionar uma vida mais saudável, diminuindo o risco de doenças crônicas, alergias e infecções em crianças, e com benefícios nutricionais e emocionais para as mulheres e seus filhos. É muito interessante incentivar ao máximo a amamentação, pois além de ter mais benefícios como fazer parte de um sistema alimentar sustentável, não demanda custos para a família, não gera poluição, nem contribui para o aquecimento global.

No entanto, apesar de a amamentação ser um processo natural, apresenta muitos desafios e pode não ser fácil para todas as mães. Por isso, elas precisam de apoio e incentivo para iniciar e continuar a amamentação de seus filhos, como também precisam ser respeitadas e escutadas caso decidam não dar de mamar.

Esse ano, com a pandemia da covid-19, temos um desafio a mais. A situação pode gerar bastante medo pela possibilidade de transmissão do vírus para o bebê durante a prática do aleitamento, que requer contato íntimo entre mãe e filho.

Quanto a isso ainda temos mais perguntas do que respostas, mas os benefícios da amamentação se mostram superiores aos riscos da covid-19, sendo necessário tomar algumas medidas para um aleitamento seguro. Entenda mais sobre isso a seguir.

O que sabemos até agora sobre amamentação e covid-19?

Um estudo publicado na revista The Lancet foi realizado com recém-nascidos de mães positivas para covid-19 e é, até agora, uma das maiores pesquisas sobre o tema.

Os pesquisadores identificaram todos os recém-nascidos entre 22 de março e 17 de maio de 2020 em três hospitais de Nova Iorque com mães positivas para covid-19 no momento do parto. Dos 1.481 partos, 116 mães apresentaram resultado positivo.

Todas elas foram orientadas a amamentar na sala de parto, mas tinham que usar uma máscara cirúrgica e praticar uma higiene adequada das mãos antes do contato com o bebê, da amamentação e de cuidados de rotina. Nenhum dos recém-nascidos apresentou sintomas de covid-19.

Os dados sugerem que a transmissão do covid-19 da mãe para o bebê é improvável se forem tomadas as devidas precauções de higiene. No entanto, também reconhecem as várias limitações do estudo, incluindo a pequena amostra, curto período de acompanhamento e a necessidade de que sejam realizadas mais investigações.

De qualquer forma, até o momento, não existem registros de transmissão do coronavírus pela placenta ou no momento do parto, nem sua presença no líquido amniótico ou no leite materno. E, diante da importância da amamentação, que fornece saúde e o bom desenvolvimento dos bebês, não existe motivos para evitar ou interromper o aleitamento, desde que sejam tomados os devidos cuidados, independentemente de a mãe apresentar COVID-19 ou não.

Se a mãe não tem covid-19, também deve tomar alguns cuidados

O Ministério da Saúde reconhece a importância da amamentação e seguindo as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde), definiu um fluxo de decisão para a amamentação, levando em consideração se a mãe tem suspeita ou confirmação de covid-19, ou não. Essa recomendação tem como base o que é preconizado pela OMS.

Dessa forma, caso a mãe não tenha suspeita ou confirmação de covid-19, deve ser apoiada e incentivada a amamentar o filho seguindo as mesmas recomendações para o aleitamento materno até então:

  • Recém-nascidos: logo após o parto o bebê deve ser colocado em contato com a mãe e amamentado na primeira hora de vida;
  • Para crianças menores de 6 meses: apoiar o aleitamento materno exclusivo (sem necessidade de consumir outros alimentos sólidos e líquidos, inclusive água);
  • Crianças maiores de 6 meses: continuar o aleitamento com uma alimentação complementar.

No entanto, em tempos de covid-19, a mãe também deve ser aconselhada a lavar as mãos frequentemente ou usar álcool em gel 70% antes de tocar no bebê, e limpar ou desinfetar regularmente as superfícies do ambiente.

Se a mãe testou positivo para a covid-19, não é preciso evitar a amamentação

Após o parto, mesmo que a mãe apresente suspeita e sintomas de covid-19 (febre, tosse seca, cansaço, problemas respiratórios, perda de olfato e do paladar), o bebê deve ser colocado em contato com a mãe logo após cuidados de higiene para prevenir a contaminação (limpeza da mãe, troca de máscara, touca, camisola e lençóis), e amamentado se esse for um desejo da mulher e ela estiver em condições de amamentar.

O contato imediato melhora a regulação térmica do bebê e contribui para que a amamentação inicie mais rapidamente.

Ainda que a transmissão pelo leite ou no momento do parto pareça improvável, a mãe infectada pode transmitir o vírus como qualquer outra pessoa através de espirro, tosse e gotículas de saliva. Por isso, ela deve seguir essas medidas de higiene:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabão ou utilizar álcool em gel 70%, principalmente antes de tocar o bebê.
  • Usar máscara (caseira ou descartável) durante o aleitamento. É importante substituir as máscaras a cada mamada, quando estiverem úmidas ou quando tossir ou espirrar e não reutilizar as máscaras descartáveis.
  • Espirrar ou tossir em lenço de papel que deve ser descartado imediatamente.
  • Limpar ou desinfetar regularmente as superfícies.

Se a mãe não conseguiu amamentar porque estava muito doente pela covid-19 ou mesmo por causa de outra doença, ela deve ser apoiada em relação à sua saúde geral, e orientada a ter uma boa alimentação que ajuda na recuperação. Assim que se sentir bem, pode começar o aleitamento.

Lembrando que, nesse caso, a mulher também pode extrair o leite, manualmente ou através de bomba elétrica, sempre adotando medidas de higiene. Isso permite que o bebê receba o leite materno, como também que a produção de leite materno continue sendo estimulada para o momento em que ela esteja recuperada e possa dar de mamar.

Apesar da importância da amamentação, ela pode não ser possível, nem desejável, sendo necessário a utilização de fórmulas infantis, como recomendado pelo Guia Alimentar para as crianças menores de dois anos.

Apoie a amamentação e as mães

A importância da amamentação é inegável, mas como a maternidade em si, é um momento de muito aprendizado e insegurança. Por isso, em qualquer dos casos, esteja a mãe com covid-19 ou não, ela precisa acolhimento e também receber apoio do cônjuge, familiares e profissionais de saúde.

O aconselhamento adequado sobre amamentação pode ajudar as mães a terem mais confiança, respeitando suas condições e escolhas individuais.

O apoio adequado também pode capacitar as mulheres a superar desafios e impedir práticas de alimentares inadequadas que possam interferir na amamentação e na saúde do bebê.

Esse apoio deve se estender durante a fase de introdução alimentar para que haja uma alimentação infantil sem grandes dificuldades, como também ao longo de todo o curso da vida.

Bon appétit!

Sophie Deram

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Usar informação nutricional online tem ligação com transtornos alimentares https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/07/29/usar-informacao-nutricional-online-tem-ligacao-com-transtornos-alimentares/ https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/07/29/usar-informacao-nutricional-online-tem-ligacao-com-transtornos-alimentares/#respond Wed, 29 Jul 2020 07:00:04 +0000 https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/?p=1133

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O uso da internet como fonte de informações nutricionais é bem comum, pois trata-se de um espaço acessível para pessoas de todas as idades, principalmente adolescentes.

De acordo com o Pew Research Center, em 2018, 95% dos adolescentes norte-americanos tinham acesso à internet via smartphone e 45% relataram estar online quase constantemente. No Brasil, a pesquisa TIC Kids Online 2019 informa que 24,3 milhões de brasileiros entre 9 e 17 anos (cerca de 89%) são usuários de internet no país.

A internet é uma fonte de informações sobre saúde para os adolescentes, o que inclui alimentação e exercício, e existe uma grande quantidade de conteúdos sobre esses temas nas redes.

Além disso, esse meio permite aos jovens se informarem anonimamente, uma vez que nesse período da vida é comum uma desconfiança de que os profissionais de saúde compartilhem suas informações com seus pais. Também é possível que os jovens usem a internet para complementar as informações que recebem na escola, com familiares ou colegas.

No entanto, não devemos acreditar em tudo o que lemos sobre alimentação. Dependendo da fonte, as informações encontradas nem sempre têm credibilidade e podem levar a sérias implicações comportamentais e de saúde. Por exemplo, na internet são encontradas diversas dietas restritivas, que como se sabe, têm influência no desenvolvimento de transtornos alimentares.

Diante disso, um grupo de pesquisadores da Universidade da Florida, realizaram um estudo para avaliar uso da Internet como fonte de informações nutricionais e sua relação com a percepção de peso e transtornos alimentares em adolescentes.

Como foi pesquisada a relação entre o uso da internet como fonte de informações nutricionais e os transtornos alimentares?

Os pesquisadores avaliaram se a frequência de uso de diferentes fontes da internet para obter informações nutricionais difere entre adolescentes com peso saudável e com excesso de peso, com base no peso real e em como eles se percebem, e se as relações entre diferentes fontes da internet utilizadas levam a comportamentos de risco para transtornos alimentares.

Uma das hipóteses levantadas é de que haveria um maior uso da internet como fonte de informações nutricionais entre os adolescentes que se consideravam com excesso de peso em comparação com aqueles que se consideravam com peso considerado adequado. E que uma busca de informações mais frequente na internet estaria associada a comportamentos de risco para transtornos alimentares.

O estudo foi realizado com 167 adolescentes entre 10 a 15 anos, considerando-se que essa faixa etária corresponde a um período de desenvolvimento fundamental, caracterizado por maior autonomia e exposição a pressões sociais.

Para testar as hipóteses, os adolescentes responderam a um teste de atitudes alimentares para identificar comportamentos de risco para transtornos alimentares; foram avaliados quanto ao modo como se percebiam (abaixo do peso, um pouco abaixo do peso, peso normal, um pouco acima do peso ou acima do peso); foi feita a classificação do Índice de Massa Corporal (IMC); e, por fim, os participantes relataram com que frequência obtinham informações nutricionais das seguintes fontes da internet: sites profissionais, sites pessoais, mídias sociais, sites comerciais de perda de peso e fóruns.

Percepção de peso é mais confiável para indicar comportamentos de risco para transtornos alimentares que o IMC

Os adolescentes que se consideravam um pouco acima do peso ou acima do peso relataram usar sites pessoais, sites comerciais de perda de peso e mídias sociais para obter informações nutricionais com mais frequência do que aqueles que não se consideravam um pouco acima do peso ou acima do peso.

De acordo com os pesquisadores, as informações desses sites seriam menos confiáveis quando comparadas com os sites de organizações de saúde designadas (Ministério da Saúde e Universidades), que tendem a conter informações mais precisas e baseadas em evidências. Porém, é mais provável que sejam sites menos atrativos, com mais informações em forma de texto e menos recursos visuais e interativos, elementos preferidos pelos jovens usuários da internet.

A frequência de uso de fontes da internet para informações nutricionais não diferiu com base no peso real. E o maior uso da internet como fonte de informações nutricionais esteve relacionado a uma maior presença de comportamentos de risco para transtornos alimentares.

Por outro lado, adolescentes com comportamentos de risco para transtornos alimentares podem procurar esses sites com mais frequência do que os adolescentes que não apresentam esses comportamentos, resultando em uma relação positiva entre atitudes e comportamentos de risco.

Não houve diferenças na frequência de uso de qualquer um dos sites de informação nutricional entre adolescentes com sobrepeso ou obesidade e aqueles com peso considerado saudável. Isso mostra que a percepção de peso é um melhor indicador de intenções de controle de peso e comportamentos de risco para transtornos alimentares do que o IMC, em adolescentes.

Mais estudos sobre o uso da internet como fonte de informações nutricionais são necessários

É importante apontar que esse estudo apresenta limitações. Foi utilizado um desenho transversal, ou seja, a coleta de dados foi realizada em um determinado ponto do tempo, o que impede tirar conclusões de causalidade.

Ou seja, não sabemos se adolescentes com comportamentos de risco para transtornos alimentares buscam mais o uso da internet como fonte de informações nutricionais ou se, na verdade, o conteúdo desses sites é que promove esse tipo de comportamento ao oferecer conselhos inadequados de perda de peso rápida. Portanto, mais pesquisas são necessárias para elucidar esse tipo de questão.

Apesar disso, esse estudo apresenta a necessidade de intervenção para garantir que os adolescentes tenham acesso a informações nutricionais confiáveis e desenvolvam hábitos e comportamentos alimentares saudáveis.

De uma forma geral, os adultos devem incentivar os adolescentes a discutir informações nutricionais que encontram na internet. E os profissionais de saúde e a comunidade escolar podem planejar atividades educativas para que os jovens aprendam como interpretar e julgar a qualidade das informações nutricionais.

Com o apoio de todos, torna-se mais fácil para as crianças e adolescentes enfrentarem as dificuldades alimentares e terem uma relação de paz com a comida e com o corpo.

Bon appétit!

Sophie Deram

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5 motivos para não falar sobre o corpo dos outros pós-pandemia https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/07/22/5-motivos-para-nao-falar-sobre-o-corpo-dos-outros-pos-pandemia/ https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/07/22/5-motivos-para-nao-falar-sobre-o-corpo-dos-outros-pos-pandemia/#respond Wed, 22 Jul 2020 07:00:46 +0000 https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/?p=1126

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A pandemia da covid-19 e a necessidade de isolamento como forma de proteção nos traz incertezas e se configura como um período de bastante estresse.

Considerando que nosso corpo muda ao longo da vida, influenciado, entre outras coisas, pelos momentos que vivenciamos, a pandemia pode propiciar mudanças, como perda ou ganho de peso.

Quem já apresentava uma relação delicada com a comida pode estar vivendo um período mais desafiador. Muita gente relata exagerar na comida e episódios de fome emocional, enquanto outras estão com o apetite diminuído.

Por outro lado, muitas pessoas também estão se sentindo menos expostas ao olhar dos outros e menos pressionadas a buscar um corpo ideal. Focaram mais na saúde e no bem-estar, ocupando a cozinha, comendo mais comida caseira e fazendo exercícios por prazer. É o que percebo entre alguns dos meus pacientes em consultas que estamos realizando à distância.

Ainda estamos vivenciando a pandemia da covd-19, no entanto, muitos países do mundo e algunas regiões do Brasil estão reabrindo a economia. Vários estabelecimentos estão retornando às suas atividades (com medidas de proteção) e ansiamos por uma vacina, para que em breve todos possamos nos encontrar e a vida volte a ser como antes.

Nesses encontros, não é incomum comentários sobre as mudanças corporais: “você engordou” ou “você emagreceu”. Imagino que você já ouviu algo do tipo, ou mesmo dirigiu comentários como esse a alguém. Falar sobre o corpo dos outros é algo corriqueiro na nossa sociedade, pois nossa cultura dá muita importância à aparência.

Quem comenta nem sempre tem má intenção, muitas vezes até deseja demonstrar interesse, preocupação, apoio ou cuidado, mas de qualquer forma, as consequências geralmente são desagradáveis.

Por isso, trago aqui 5 motivos para não falar sobre o corpo dos outros no pós-pandemia (ou em qualquer outra situação).

1. Você pode estar fomentando a insatisfação corporal

A imagem corporal é a figura que temos dos nossos corpos, suas formas e tamanho. Também se refere às práticas corporais, sentimentos e pensamentos relativos a ele.

Já a insatisfação corporal é um distúrbio da imagem corporal. Não se refere apenas à distorção da imagem corporal (perceber-se maior ou menor do que se é na realidade), mas também à depreciação, evitação e valorização extrema do corpo.

Existem pessoas insatisfeitas de todos os tipos físicos, inclusive aquelas que apresentam características do padrão de beleza da nossa sociedade.

A mentalidade de dieta pode estar muito atrelada a isso. As pessoas se sentem insatisfeitas e buscam restrições alimentares, que não dão certo a longo prazo, para atingirem uma forma física que geralmente é inalcançável.

Essa busca constante pode ser um gatilho para a busca de um corpo irreal e problemas mais severos com a comida, inclusive transtornos alimentares.

2. A gente não sabe pelo que o outro está passando

Bem, esta é outra coisa a se considerar. Você não tem como saber pela aparência do outro, mas ele pode estar passando por problema de saúde que pode provocar perda ou ganho de peso (câncer, diabetes, hipo ou hipertireoidismo, por exemplo), ou um momento difícil em relação à sua alimentação e ao modo como vê o seu corpo.

É possível, inclusive, que a pessoa a quem dirigimos um comentário apresente um problema mais sério, como um transtorno alimentar. Ela pode estar lutando em silêncio, mas ainda assim pensando e avaliando seus corpos o tempo todo. Nesse caso, qualquer comentário sobre o corpo ou sobre a aparência pode ser interpretado como um sinal distorcido de seu sucesso ou de seu fracasso de forma extrema.

Elogios podem fazê-la se sentir motivada a praticar comportamentos prejudiciais para manter a forma corporal, como também as críticas geralmente provocam sentimentos de culpa e de vergonha.

3. Há muito mais sobre o que falar

Atualmente, a magreza é extremamente desejável, enquanto que o corpo gordo é mal visto. Infelizmente, essa obsessão pela aparência pode ter um impacto extremamente negativo na saúde.

Quando você faz um comentário sobre o corpo de alguém está contribuindo para perpetuar uma cultura que iguala o aspecto físico ao seu valor como pessoa. A aparência pode ser a primeira coisa que vemos, mas não é o atributo que define quem somos.

Sem falar que, até um certo ponto, os corpos mudam constantemente. As pessoas podem ganhar ou manter peso, pintar os cabelos, fazer uma tatuagem, usar determinadas roupas, etc.

Por que gastar tanto tempo enfatizando algo tão variável quando você pode se concentrar, literalmente, em qualquer outra coisa? Em vez de falar sobre o corpo dos outros, experimente dar espaço para que falem sobre o que desejarem e deixe a conversa fluir.

4. Por trás da gentileza pode haver preconceito

“Seu rosto é tão bonito, porque não tenta emagrecer?”. “Pela sua saúde, acho que você deveria cuidar da sua alimentação”. “Você não acha que ficaria melhor se ganhasse/perdesse alguns quilos?”. “Tenho uma dieta ótima que pode ajudar você”.

Há quem faça esse tipo de comentário, acreditando estar sendo gentil, elogiando ou demonstrando apoio. Mas na verdade essas frases podem estar repletas de preconceitos, como também expressam a ideia muito recorrente na nossa sociedade, de que o peso determina a nossa saúde.

No entanto, existem pessoas saudáveis de todos os tipos e formas corporais, não é o peso que determina se alguém é mais ou menos saudável.

Mesmo que esteja preocupado com a saúde de alguém, falar sobre o corpo dos outros não é o melhor caminho. Você pode experimentar demonstrar essa preocupação de modo que não chame a atenção para a aparência.

5. Um elogio para você pode não ser um elogio para outra pessoa

“Você perdeu peso” ou “você ganhou músculos” não são elogios universais. Nem todo mundo se sente bem emagrecendo ou ganhando massa corporal. Na verdade, não existem palavras verdadeiramente seguras para descrever o corpo de alguém sem conhecer como elas se relacionam com essas palavras.

Para quem não se sente bem com seu corpo, ouvir esse tipo de comentário, aparentemente inocente, pode se tornar o combustível para comportamentos inadequados. Dependendo da pessoa, pode significar um dia inteiro descontando os sentimentos na comida, ou não comendo nada. Por isso, o melhor é evitar elogios como esses.

Por fim, sugiro que todos nós façamos o esforço de ter mais empatia e respeito pelas pessoas. Nada de incentivar dietas da moda, nem falar sobre o corpo dos outros no pós-pandemia ou qualquer outro momento. Assim, você ajuda as pessoas a fazer as pazes com a comida e com o corpo!

Bon appétit!

Sophie

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Como prevenir a obesidade infantil? Estudo indica direções https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/07/15/como-prevenir-a-obesidade-infantil-estudo-indica-direcoes/ https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/07/15/como-prevenir-a-obesidade-infantil-estudo-indica-direcoes/#respond Wed, 15 Jul 2020 07:00:39 +0000 https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/?p=1120

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A obesidade é um problema de saúde crescente no Brasil e no mundo, que atinge também as crianças e os adolescentes.

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em 2018, cerca de 40 milhões de crianças menores de cinco anos estavam acima do peso, e em 2016, 131 milhões de crianças de 5 a 9 anos, 207 milhões de adolescentes e 2 bilhões de adultos. Aproximadamente um terço dos adolescentes e adultos com excesso de peso e 44% das crianças entre 5 e 9 anos eram obesas.

O excesso de peso em crianças aumenta o risco de obesidade durante a vida adulta e também pode levar ao desenvolvimento de doenças crônicas, como diabetes e doenças cardíacas. Mas a saúde física não é a única afetada, também há consequências para a saúde mental, com baixa autoestima e sintomas de depressão.

O IMC (Índice de Massa Corporal) é a forma mais simples e de menor custo para diagnosticar a obesidade, inclusive a infantil. Como na avaliação de adultos, usa-se o peso dividido pela altura ao quadrado para o cálculo do IMC, mas os pontos de corte estabelecidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde) são distintos e levam em consideração também o sexo e a idade.

Vale lembrar que o IMC, isoladamente, não é o parâmetro mais confiável, pois as causas da obesidade infantil são múltiplas e envolvem fatores genéticos, fisiológicos, comportamentais, socioculturais e psicológicos. Seu diagnóstico e avaliação necessitam considerar diversos elementos.

Diante disso, um estudo financiado pela Universidade de Ciências Médicas de Hamadan, no Irã, forneceu informações sobre 14 fatores comportamentais que podem ajudar a como prevenir a obesidade infantil.

Comportamentos que influenciam a obesidade infantil

De acordo com esse estudo, que é uma revisão sistemática e metanálise, para saber como prevenir a obesidade infantil é importante uma visão abrangente e clara dos fatores que contribuem para o excesso de peso entre as crianças. Conhecê-los deve ser uma prioridade que pode ser implementada para o desenho e a execução de estratégias eficazes de intervenção e de prevenção.

O objetivo foi avaliar a associação entre sobrepeso e obesidade infantil em relação a 14 fatores comportamentais. No total, foram identificados 34 537 estudos e selecionados 199 deles para serem efetivamente avaliados, totalizando 1 636 049 participantes.

Os resultados sobre os fatores associados com o sobrepeso e obesidade infantil mostraram que 3 deles podem reduzir significativamente o risco de obesidade infantil:

  1. Atividade física suficiente.
  2. Tomar café da manhã todos os dias.
  3. Comer doce mais de 3 vezes por semana.

Enquanto que outros 5 fatores de risco podem aumentar esse risco:

  1. Amamentação por menos de 4 meses.
  2. Sono inadequado (foi considerado suficiente dormir pelo menos de 9 a 12h por dia para crianças de 6 a 12 anos ou de 8 a 10h por dia para crianças de 13 a 18 anos).
  3. Assistir televisão mais de 2 horas por dia.
  4. Consumir bebidas açucaradas mais de 4 vezes por semana.
  5. Fumar.

Os demais fatores comportamentais não apresentaram efeito significativo sobre a obesidade infantil:

  1. Consumo suficiente de frutas e vegetais.
  2. Jogar no computador mais de 2 horas por dia.
  3. Comer lanches mais de 4 vezes por semana.
  4. Comer fast-food mais de três vezes por semana.
  5. Comer alimentos fritos mais de três vezes na semana.
  6. Consumir bebidas alcoólicas.

Se quer saber como prevenir a obesidade infantil, tenha como foco o estilo de vida

Esses resultados apresentam uma associação contraditória e refere-se ao consumo de doces que inesperadamente diminuiu o risco de obesidade, enquanto o consumo de bebidas açucaradas aumentou esse risco.

Os autores sugerem algumas explicações. De acordo com eles, as bebidas com alto teor de açúcares geralmente são servidas com as refeições, levando a uma ingestão calórica adicional, o que poderia impor às crianças um maior risco de sobrepeso e obesidade.

Já os doces geralmente são consumidos entre as refeições, podendo reduzir o apetite das crianças no almoço e no jantar e reduzindo a ingestão de calorias.

As sugestões do artigo vão todas no sentido de identificar uma menor ou maior ingestão calórica, mas é bom lembrar que a qualidade dos alimentos e o modo como comemos também influencia bastante no ganho de peso e na saúde. Essa pode ser uma limitação do estudo, sendo necessárias mais pesquisas para esclarecer essa questão.

Além disso, os comportamentos mais significativos na redução do risco de obesidade foram a atividade física e o hábito de tomar café da manhã todos os dias. Do mesmo modo, comer fast-food ou alimentos fritos e consumir frutas e vegetais não apresentou significância.

Talvez isso mostre que o foco para prevenir a obesidade infantil não deve ser nos alimentos em si, nem na ingestão calórica, mas no modo como comemos e na adoção de um estilo de vida saudável.

Um novo olhar sobre como prevenir a obesidade infantil

A obesidade infantil necessita de educação e apoio adequados para que as crianças possam adotar hábitos saudáveis que ajudem na proteção da saúde. Esse apoio deve vir dos adultos, como pais, familiares, professores, profissionais de saúde e outros cuidadores.

Geralmente os programas de prevenção e os tratamentos para a obesidade envolvem restrições, proibições e têm como foco o peso, porém esse tipo de abordagem não parece estar surtindo o efeito esperado na redução da obesidade.

Pensando nisso, idealizei o Manifesto para um novo olhar sobre a obesidade, que busca discutir abordagens que podem ser mais efetivas e que buscam o respeito pelas pessoas com obesidade, em qualquer idade, além de tratamentos sem dietas restritivas.

Considerando essas abordagens, aqui estão 8 dicas para você aprender a como prevenir a obesidade infantil.

  1. Não foque no peso. Não é ele que define a saúde. As crianças têm estruturas corporais diferentes e a composição da gordura corporal varia de acordo com vários estágios de desenvolvimento. Além disso, podem existir pessoas saudáveis de todos os tamanhos. Por isso, tenha como metas as pequenas mudanças da rotina e dos hábitos da família.
  2. Busque mudanças de estilo de vida para todos da sua casa. Uma das formas de melhorar a alimentação das crianças e adolescentes é a adoção de hábitos saudáveis por toda a família.
  3. Incentive a prática de atividade física. Isso não precisa ser uma obrigação, o melhor é procurar brincadeiras e atividades do dia a dia que proporcionem prazer e mantenha o corpo ativo. Você pode planejar atividades que forneçam exercícios a todos os familiares, como caminhar, pedalar e dançar.
  4. Reduza o tempo que você e sua família gastam em atividades sedentárias, como assistir televisão e jogar no computador. Você pode definir horários e um tempo máximo para esse tipo de lazer.
  5. Não proíba o consumo de determinados alimentos. Muitos pais proíbem o consumo de balas e doces. No entanto, quando nos sentimos proibidos de comer determinados alimentos é comum que o desejo por eles aumente. Com isso não quero dizer que as crianças devem comer doces sem nenhum critério, mas apenas que a proibição pode não ser a melhor estratégia.
  6. Ofereça mais alimentos in natura. Aumentar o consumo desse tipo de alimento é uma forma de melhorar a alimentação e pode levar a um menor consumo de alimentos ultraprocessados.
  7. Defina horários junto com seu filho. Comer, dormir, estudar, ter momentos de lazer… todas as tarefas cotidianas necessitam de um tempo e podem ser combinadas com a criança.
  8. Se necessário, busque ajuda de profissionais! Se você acredita que seu filho está passando por problemas com a alimentação, o mais indicado é que procure ajuda qualificada para dar apoio nesse momento.

Bon appétit!

Sophie

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Entenda mais sobre os conflito de interesses em pesquisas de nutrição https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/07/08/entenda-mais-sobre-os-conflito-de-interesses-em-pesquisas-de-nutricao/ https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/2020/07/08/entenda-mais-sobre-os-conflito-de-interesses-em-pesquisas-de-nutricao/#respond Wed, 08 Jul 2020 07:00:34 +0000 https://nutricaosemneura.blogosfera.uol.com.br/?p=1114

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A ideia de escrever algo aqui sobre conflito de interesses em pesquisas de nutrição me ocorreu a partir do artigo que publiquei semana passada sobre a metanálise “Meat and mental health: a systematic review of meat abstention and depression, anxiety, and related phenomena” que mostra uma ligação entre vegetarianismo e saúde mental.

Tenho bastante cuidado ao ler os artigos científicos. Esse, em especial, apesar de declarar não haver conflito de interesses, foi parcialmente financiado por um programa de marketing e pesquisa desenvolvido para aumentar a demanda por carne bovina. Isso mostra claramente que outros interesses podem ter interferido nos resultados da pesquisa.

Essa publicação não é uma exceção. Muitas pesquisas de alimentação e nutrição são financiadas por empresas, visando o próprio lucro. Essa questão não é simples, envolve diversas questões éticas e políticas, e por isso mesmo considero que precisamos conversar sobre os conflito de interesses em pesquisas de nutrição.

Você sabe o que são conflito de interesses?

Conflito de interesses na pesquisa referem-se a situações em que o pesquisador está envolvido com interesses secundários (financeiros, comerciais, políticos) que podem influenciar os resultados da pesquisa.

Por esse motivo, as revistas científicas exigem que os autores de artigos divulguem a existência ou não de conflito de interesses, como também dê informações sobre o financiamento da pesquisa.

Evitar os conflito de interesses em pesquisas de nutrição e na ciência em geral é algo muito complexo, pois a ciência não é neutra. Ela é feita por seres humanos que têm interesses, intenções e ambições, e que é financiada por governos e empresas.

Os conflitos de interesses são comuns na área da Nutrição. Vale lembrar que os alimentos representam um enorme mercado, por isso é lógico que a indústria de alimentos deseje promover seus produtos e influenciar as pesquisas científicas, além da formação de opinião dos consumidores.

Temos diversos exemplos nos quais o lucro da indústria fala mais alto nas pesquisas de nutrição. Ano passado, por exemplo, a OMS (Organização Mundial da Saúde) desistiu de incentivar uma campanha que incentiva dietas com base em plantas, pois questionou-se as evidências científicas desse tipo de dieta e os interesses financeiros das empresas fundadoras.

A Coca-Cola patrocinou um estudo que concluiu que o baixo nível de atividade física é responsável pela obesidade, e não uma alimentação não-saudável. Vale lembrar que a pesquisa não procurou relação entre o consumo de bebidas açucaradas e o excesso de peso. E a SBAN (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição) já foi alvo de diversas críticas e movimentos por ter essa empresa como uma de suas patrocinadoras.

Por isso, é tão importante olhar para o financiamento da pesquisa. Porém, também não podemos cair na armadilha de achar que todas as pesquisas financiadas por empresas geram informações manipuladas.

Na verdade, é possível que promovam benefícios à população em geral. Graças a muitos financiamentos privados, ocorreram o desenvolvimento de novos medicamentos, tecnologias médicas para a detecção e tratamento de doenças, descoberta de funções dos nutrientes e sua presença em determinados alimentos, etc.

As empresas também têm perguntas de pesquisas e questões sobre os potenciais efeitos de seus produtos na saúde. Mas essas questões, sem dúvida alguma, podem ser melhor respondidas por cientistas que não tenham relações de dependência com a indústria. Nesse caso, a questão principal é encontrar uma maneira prática de evitar que interesses comerciais e financeiros interfiram nas pesquisas.

Para isso é importantíssimo pensar sobre os impasses éticos envolvidos na ciência e tentar responder a questões como: quais setores da sociedade servem a uma determinada pesquisa específica? Quem deve se beneficiar com essas descobertas? Quais poderiam ser os usos indevidos dessas descobertas?

O conflito de interesses não acontece apenas com interferência da indústria

Conflitos de interesses em pesquisas de nutrição que envolvem a indústria, sem dúvida, são muito presentes e problemáticos. No entanto, não são os únicos. Aqueles que acontecem por interferência de aspectos individuais dos pesquisadores também merecem atenção.

Um dos aspectos é a preferência por determinadas teorias que podem afetar um campo de estudo. É quase inevitável que um pesquisador forme uma opinião e que defenda seu trabalho, suas próprias descobertas e as teorias que ele adotou como verdadeiras.

Quanto aos cientistas da nutrição, há um desafio adicional. Todos os dias eles devem fazer inúmeras escolhas sobre o que comer, sem permitir que afetem suas pesquisas, ao mesmo tempo são influenciados por normas alimentares da sua família e educação, cultura ou religião.

Pense comigo para entender melhor sobre o que estou falando: você acha que um pesquisador adepto de alguma religião poderia concluir com facilidade que determinada forma de se alimentar atrelada à sua religiosidade seja prejudicial à saúde?

Os pesquisadores são humanos e não é possível separar completamente quem são profissionalmente das outras instâncias da vida. Mas é importante que divulguem seu trabalho, bem como suas preferências alimentares, pois essas informações podem ser relevantes para a compreensão das publicações científicas.

Por exemplo, os leitores devem saber se um autor é fortemente aderente a uma determinada dieta ou que segue e acredita em determina linha da Nutrição.

A divulgação de informações desse tipo contribui para que se entenda de onde o pesquisador está falando e ajuda a contextualizar e a identificar comprometimentos da informação com base em opiniões e questões pessoais. A disponibilidade dessas divulgações permitiria que os leitores fossem mais céticos ou mais inspirados, dependendo de como veem as evidências e argumentos apresentados.

A ciência não é neutra, mas precisa ser ética e transparente

Ou seja, ao lidar com conflito de interesses em pesquisas de nutrição uma das coisas mais importantes é que existam reflexões éticas e transparência, o que se relaciona com a importância do direito à informação e a ter subsídios para interpretar e identificar vieses nas pesquisas.

A visibilidade desse conflito de interesses, seja o patrocínio das empresas ou as questões individuais dos pesquisadores, é essencial para o avanço justo das pesquisas em Nutrição.

É de extrema importância que essas informações sobre os pesquisadores e sobre financiamento da pesquisa possam ser encontradas nos artigos de forma clara e exposta com destaque. E a divulgação disso pela mídia pode ajudar o público a desenvolver uma avaliação mais crítica sobre os estudos.

Para isso, é importante que os pesquisadores informem com clareza a existência de conflito de interesses (ter parentes próximos com interesses financeiros nos resultados da pesquisa, trabalhar em uma organização com interesse financeiro, receber apoio, doações ou bolsas de empresas ou organizações), o que também se aplica a revisores e editores dos periódicos científicos que podem estar ligados aos autores e afetar a imparcialidade da revisão.

Os profissionais e pesquisadores de saúde devem estar atentos a esses conflito de interesses, inclusive no que diz respeito às suas próprias ações, e discutir essas questões eticamente na busca por uma nutrição com ciência e consciência.

Outra responsabilidade nossa é educar as pessoas a não acreditarem em tudo que leem sobre alimentação, ajudando-as a desenvolver o senso crítico e o discernimento para interpretar as informações. Só assim, com ética, transparência e qualidade, é que poderemos ter uma ciência com menos conflito de interesses e mais justa.

Bon appétit!

Sophie

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